Título: Eliezer, o visionário que convenceu o Japão
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 26/11/2009, Economia, p. 32

Em documentário, o engenheiro e ex-presidente da Vale conta como a mineradora chegou ao mercado asiático

Aos poucos, o personagem central do documentário foi cativando o cineasta Victor Lopes. A simplicidade com a qual ele descrevia fatos extraordinários, e o bom humor para narrar seus próprios dissabores, despertava ao mesmo tempo admiração e entusiasmo. Quanto mais ele falava, mais embevecido ficava o diretor atrás da câmera.

¿ À medida que ele ia falando eu pensava: estou diante de Villa-Lobos, conversando com Santos Dumont ¿ contou Lopes ao GLOBO, ao descrever a sensação provocada pela originalidade do pensamento de Eliezer Batista, uma das figuras mais instigantes do Brasil moderno, ao narrar a ele sua trajetória ao longo de 50 anos de pioneirismo.

Os encontros com a equipe de filmagem se prolongaram por meses, entrecortados pela coleta de depoimentos de pessoas cujas informações e comentários ajudaram a montar amplo painel que deu vida a ¿Eliezer Batista, o engenheiro do Brasil¿ ¿ documentário de 84 minutos que estreia nos cinemas amanhã.

O filme relembra a história contemporânea do país, homenageia um profissional visionário que as novas gerações conhecem só como o pai do bilionário Eike Batista ¿ mas que, para observadores do desenvolvimento nacional, é uma raridade hoje: um pensador estratégico.

¿ Me convenceram a fazer o filme argumentando que há uma juventude perdida que não sabe para onde ir, num país com tantas oportunidades. O documentário poderia produzir, pelo registro de minhas obras, um ¿efeito demonstração¿ de que tudo é possível, desde que tenhamos objetivo claro, muita persistência e determinação ¿ disse Eliezer, cujo maior orgulho é o de suas iniciativas terem criado 20 milhões de empregos no país.

O documentário mostra que esse engenheiro, que fala sete idiomas, é pai de sete filhos e aos 85 anos está na ativa como consultor, foi o pai (adotivo) e tutor da Companhia Vale do Rio Doce, que presidiu duas vezes e transformou na maior mineradora do mundo. Além disso, foi o patrono de Carajás, criador do Porto de Tubarão e da fábrica de celulose Aracruz, entre outros empreendimentos que colocaram o Brasil no mapa do comércio global.

¿ Meu pai era pouco culto, mas extremamente inteligente. E tinha espírito do empreendedor nato. Isso me empurrou nessa direção e fui chegando à conclusão de que gostava de fazer coisas grandes ¿ conta Eliezer.

Quando assumiu a Vale, no início dos anos 60, o Brasil exportava US$1 bilhão/ano ¿ e a lista tinha basicamente café, açúcar e cacau. O desafio da Vale, conta, não era a mineração ou uma ferrovia para levar produtos aos portos ¿ e sim a logística: como o minério de ferro chegar ao Japão, seu consumidor, de forma viável, já que a Austrália, seu competidor, estava na metade do caminho do Oriente.

Brotou, então, uma das ousadias criativas de Eliezer: construir um porto no Brasil e convencer o Japão a fazer outros em sua costa, com capacidade para navios de 100 mil toneladas. Mas tais embarcações não existiam: as maiores não passavam de 40 mil toneladas. Ele fez surgir os graneleiros-petroleiros, que levavam minério para o Japão e na volta passavam pelo Golfo Pérsico para trazer petróleo ao Brasil. Era o que ele chamava de ¿transformar a distância física numa distância econômica¿.

¿ Ele foi quem permitiu ao mundo operar em escala que jamais se imaginou. Como a Boeing lançou o 747, o doutor Eliezer lançou o Jumbo dos mares ¿ diz, no filme, seu filho Eike (referindo-se frequentemente ao pai como ¿doutor Eliezer¿).

As boas idéias nem sempre foram de Eliezer:

¿ Nunca recusei idéia melhor do que a minha. Aproveitei muitas idéias de meu chofer.