Título: Verão sem refresco no comércio
Autor: Batista, Henrique Gomes; Nunes, Vivian Pereira
Fonte: O Globo, 26/11/2009, Economia, p. 27

Com calor atípico e economia aquecida, faltam ar-condicionado, ventilador e até sorvete

ROSILDO PROCURA ar-condicionado há 20 dias sem sucesso: "Quero pôr na saleta de televisão, para aliviar a tensão do calor"

Acombinação de calor e dinheiro no bolso ou crédito na mão levou o carioca às compras. Em novembro, a venda de aparelhos de ar-condicionado e ventiladores chegou a triplicar e está difícil encontrar nas lojas condicionadores de ar para a pronta entrega. O calor atípico aumentou o consumo de sorvetes e bebidas e, em algumas sorveterias, tem ocorrido falta de sabores. A Coca-Cola Zero também sumiu das prateleiras por alguns dias.

E mesmo produtos que não têm a ver com o calor estão em falta: alguns aparelhos de TV LCD e até modelos de automóveis, item que anteontem foi novamente beneficiado com uma prorrogação do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) reduzido.

Fabricantes e varejistas estão traçando agora estratégias de emergência para atender a demanda atípica.

- Estamos trabalhando a todo o vapor, em três turnos. Tínhamos previsões que este seria um verão muito longo e quente, com as temperaturas elevadas até abril. Mas muitas redes não nos deram ouvidos e sofreram com falta de estoque - afirma Adriano Oliveira, gerente de produtos da Arno.

Embora o calor esteja castigando boa parte do Brasil, a falta de produtos é mais intensa no Rio. Na opinião de Armando Ennes do Valle Jr., diretor de relações institucionais da Whirlpool - das marcas Consul e Brastemp -isso se deve a uma característica do carioca, mais afeito ao ar-condicionado:

- O Rio representa 40% do mercado brasileiro de ar-condicionado e este mercado é, de certa forma, imprevisível. Tivemos fins de semana no Rio em que o consumo triplicou.

Ontem, nas lojas das principais redes varejistas no Centro do Rio, não havia aparelhos de ar-condicionado para pronta entrega. No Ponto Frio, era preciso esperar até dez dias. Nas Casas Bahia, não havia sequer previsão de novas remessas. Na Ricardo Eletro, apenas o ar-condicionado da marca chinesa Gree poderia ser levado na hora. Na Tele-Rio, uma remessa de dez unidades de condicionadores Electrolux chegou e acabou ontem mesmo.

O comerciante Rosildo Costa tenta comprar um ar-condicionado há 20 dias, sem sucesso. Como mora na Região dos Lagos e trabalha no Rio, ele quer comprar o aparelho, colocar no carro e levar para casa. Mas não encontra opção para pronta entrega.

- Quero pôr na saleta de televisão, para aliviar a tensão do calor.

A falta de aparelhos de ar-condicionado se repete nas lojas on-line. No site do Ponto Frio, dos 28 modelos listados, 23 aparecem como esgotados. No endereço eletrônico da Ricardo Eletro, de 11 tipos de aparelhos, só dois estão disponíveis.

O Grupo Pão de Açúcar - que controla o hipermercado Extra e a rede Ponto Frio - espera alta de 50% nas vendas de ventiladores e ar-condicionado em novembro e dezembro ante o mesmo período de 2008.

Para atender a demanda carioca, a rede Ricardo Eletro está trazendo aparelhos de ar-condicionado e ventiladores de lojas de Minas Gerais e pediu a antecipação de entregas à indústria.

- O calor veio muito forte e ninguém estava preparado, nem a indústria. Estamos dobrando nossas vendas - afirmou Rômulo Cunha, diretor de compras da rede.

Horas extras para atender a demanda

A Casa&Video viu suas vendas de ventiadores e ar-condicionado triplicarem neste mês. A rede reconhece que alguns modelos de ventiladores chegaram a se esgotar em algumas lojas, mas diz que o estoque vem sendo regularizado. Já a Casas Bahia afirmou que viveu um desequilíbrio de demanda, mas já regularizou a situação.

Alberto Betrian, gerente-geral da Mallory, produtora de ventiladores, diz que sua fábrica opera perto da capacidade máxima:

- Elevamos nossa produção em 15% e ficaremo neste patamar até o fim de janeiro. Estamos operando com quase 100% da capacidade.

Com a temperatura mais alta, o consumo de sorvetes também aumentou. Na Sorvete Itália, a gerente de franquias Simone Vianna diz que a alta nas vendas foi de 40% desde a segunda quinzena de outubro. Um movimento que, segundo ela, é comum somente a partir de dezembro.

- Estamos com horas extras em nossa fábrica para dar conta da demanda. Alguns produtos chegam a acabar nas lojas e é preciso fazer a rápida reposição.

Paula Saboya, sócia da Mil Frutas, identificou alta nas vendas de 30%.

oglobo.com.br/economia