Título: Thomaz Bastos nega que houve mensalão
Autor: Campbell, Ullisses; D'Elia, Mirella
Fonte: Correio Braziliense, 28/05/2009, Política, p. 7

Ex-ministro depõe em São Paulo, defende José Dirceu e descarta a denúncia do esquema de compra de votos dentro da base aliada.

Thomaz Bastos: ¿Foi um depoimento sobre a pessoa dele (José Dirceu)¿ São Paulo ¿ Na terceira rodada dos depoimentos do mensalão na Justiça Federal, ocorrida ontem em São Paulo, uma das principais testemunhas de defesa do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT), o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, disse que a compra de votos de deputados da base aliada do governo nunca existiu. No processo em que quase 40 pessoas aparecem como réus, Dirceu é apontado como suposto comandante do ¿negócio¿ que o derrubou do governo. Ao todo, segundo o Supremo Tribunal Federal (STF), 500 testemunhas de defesa devem ser ouvidas até o fim do ano.

Segundo Thomaz Bastos, o esquema é fantasioso. ¿Na minha convicção, isso nunca existiu¿, ressaltou quando foi perguntado como era a suposta compra de votos. O advogado de Dirceu, José Luís Oliveira Lima, que acompanhou todos os seis depoimentos de ontem, também afirmou que o assunto ¿é uma lenda¿. ¿Para mim, o mensalão é uma peça de ficção feita pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza¿, disparou. Souza não rebateu a acusação.

De acordo com Lima, a tese da defesa é desmontar a denúncia ponto a ponto. ¿Vamos rebater cada tópico da denúncia. No final, vamos mostrar a verdade. A denúncia nada mais é do que uma peça de ficção feita pelo procurador-geral da República¿, ressaltou o advogado.

Já Thomaz Bastos alegou que não poderia dar muitos detalhes sobre o seu depoimento, porque o processo corre sob segredo de Justiça. Mas disse que focou o seu testemunho nas qualidades do companheiro Dirceu. ¿Foi um depoimento sobre a sua imagem, sobre a pessoa dele. Nada mais que isso¿, disse. E completou: ¿O Dirceu é um sujeito disciplinado, preparado e eu nunca o vi trabalhar menos de 12 horas por dia na Casa Civil. Antes de a gente se conhecer, tínhamos uma relação familiar¿.

O ex-ministro da Justiça também lembrou que a aproximação familiar entre ele e Dirceu vem de longa data. ¿Meus pais foram padrinhos de casamento dos pais de Dirceu¿, contou. O depoimento dele durou cerca de três horas e meia.

Corrupção O último a entrar no Fórum Criminal para depor foi o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB), convocado a falar em defesa de Dirceu, mas também está arrolado para testemunhar em benefício do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB), que denunciou o suposto esquema de corrupção. Rebelo afirmou que também não sabe da existência do mensalão. ¿A partir do que pude testemunhar, eu não tive conhecimento nem vi esse esquema funcionando¿, ressaltou como testemunha de defesa de Dirceu.

Ao entrar no Fórum Criminal, o advogado de Jefferson disse que não sabia o que Rebello poderia falar nos seus dois depoimentos e que não há provas de uso do dinheiro público no pagamento das propinas denunciadas na Justiça. ¿Na minha opinião, o processo vai terminar em execução bancária porque envolve bancos, mas não prova o uso de dinheiro público¿, ressaltou.

A Justiça Federal está enfrentando dificuldades para localizar testemunhas do processo do mensalão. Pelo menos 10 testemunhas de defesa indicadas por réus e que deveriam ter sido ouvidas por juízes federais no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte não puderam ser localizadas porque os endereços indicados estavam errados ou até mesmo não existiam. Das oito testemunhas esperadas para depor ontem, duas não compareceram porque não foram localizadas. Entre elas está Carlos Alberto Libânio, o Frei Beto.