Título: Alvo errado
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Fonte: O Globo, 28/11/2009, Opinião, p. 6

Ogrande potencial hídrico para a geração de energia elétrica no Brasil está na Amazônia. Graças à evolução da tecnologia na transmissão esse potencial pode ser hoje explorado. Simultaneamente, a oferta tem condições de viabilizar projetos em áreas próximas dessas usinas, criando alternativas para substituir atividades que vêm contribuindo para o desmatamento e a degradação da floresta.

Embora estejam planejadas para gerar centenas ou milhares de megawatts, as futuras usinas na Amazônia não estarão mais associadas a gigantescos reservatórios. São hidrelétricas que usarão os cursos naturais dos rios ou canais com fluxo permanente de água. É o caso, por exemplo, das hidrelétricas em construção no Rio Madeira, em Rondônia, ou da futura usina de Belo Monte, no Rio Xingu (Pará). Esta deverá ser a maior hidrelétrica brasileira (considerando-se que metade de Itaipu pertence ao Paraguai), com capacidade da ordem de 8.500 megawatts.

Belo Monte deve incorporar todos os avanços da engenharia brasileira na construção de grandes hidrelétricas, alcançados com base no conceito de mais baixo impacto ambiental possível. Além de o investimento por quilowatt ser um dos mais atrativos, pelo lado ambiental a usina terá a vantagem de a área prevista para inundação não superar a que já fica submersa no período de cheia do rio. Na cidade de Altamira, por exemplo, as casas que serão atingidas estavam programadas para ser remanejadas exatamente por esse motivo, e não por causa da futura usina. A área que ficará represada por Belo Monte corresponderá a menos de um terço do reservatório de Tucuruí.

Com a usina, a população ribeirinha receberá mais atenção, até porque será necessário evitar desmatamento e assoreamento dos canais e do rio.

Em face da dimensão do empreendimento, Belo Monte certamente precisará atender a muitas exigências das autoridades responsáveis pelo licenciamento ambiental. Cumpridas essas exigências, não existe qualquer outro fator que justifique a resistência contra Belo Monte (o que a usina evitará de emissões de carbono, caso o país seja obrigado a construir mais termelétricas, é muito significativo).

Nem aldeias indígenas serão atingidas, nem a floresta ficará ameaçada. Surpreende que o projeto ainda enfrente oposição de pessoas bem-intencionadas, como deve ser o caso do roqueiro inglês Sting, que em recente visita ao Brasil voltou a apadrinhar o cacique xavante Raoni, cuja tribo está localizada a centenas de quilômetros da futura usina. Lutam contra fantasmas.