Título: Zelaya agora tenta apoio para após as eleições
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 28/11/2009, O Mundo, p. 41

Presidente deposto quer tribunal internacional para seu julgamento; Unasul diz que não aceitará o resultado do pleito

PORFÍRIO LOBO, favorito

TEGUCIGALPA. Diante das enormes dificuldades para voltar ao cargo, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, já articula junto à comunidade internacional a sua defesa para o período pós-eleição presidencial, que acontece amanhã. Zelaya enviou ontem um documento à ONU e à Organização dos Estados Americanos (OEA) pedindo, em caráter emergencial, a constituição de um tribunal que possa julgar cada um dos delitos de que é acusado, como traição à pátria e desobediência civil.

Refugiado na Embaixada do Brasil, em Tegucigalpa, o presidente deposto mantém o discurso de que a eleição é resultado de um golpe de Estado, portanto, ilegítima. Ao mesmo tempo, já estaria analisando os efeitos de uma votação com pequena abstenção e a possibilidade de os observadores internacionais não detectarem fraudes no processo eleitoral. Indagado pelo GLOBO se reconheceria a eleição caso a grande maioria dos hondurenhos siga às urnas amanhã, Zelaya sai pela tangente:

- Sou um político, não sou astrólogo. Mas acredito que a abstenção será de 50%, o que representa um país dividido e uma eleição que não pode ser reconhecida - disse ele.

Como possível estratégia para recuperar prestígio junto aos organismos judiciais, o grupo de Zelaya admitiria reconhecer a eleição caso 80% ou mais da população votem amanhã. Ainda assim, embora saiba das dificuldades internas, Zelaya continua buscando apoio a um eventual processo de anistia também em sua base partidária. Na próxima quarta-feira, quando o Congresso Nacional votará pela possibilidade ou não de Zelaya ser reconduzido ao cargo, onde permaneceria até 27 de janeiro, dia em que assume o novo mandatário, seus aliados pretendem reforçar junto ao Poder Legislativo a reconsideração a respeito dos delitos.

Porfírio diz que, se eleito, baterá na porta de Lula

Ao mesmo tempo, cresce a pressão da comunidade internacional contra Zelaya. O presidente da Costa Rica, Óscar Arias, disse ontem que o resultado da eleição deverá ser reconhecido caso a votação ocorra sem denúncias de observadores internacionais. O chanceler peruano, José Antonio García Belaúnde, foi na mesma linha:

- Se as eleições se realizarem com transparência, sem objeções às mesmas, de modo que o resultado reflita a vontade do povo, vamos reconhecê-las - assegurou.

Já a Casa Branca emitiu ontem um comunicado conclamando os lados a implementarem o acordo de San José-Tegucigalpa, incluindo a realização da votação no Congresso sobre a restituição de Zelaya. E a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) adiantou que não aceitará o resultado das eleições por elas terem sido convocadas por um governo considerado golpista, segundo anunciou o presidente equatoriano, Rafael Correa, à frente da Presidência rotativa do bloco.

A hipótese de anistia para Zelaya é assunto que não tem força também na campanha de Porfírio Pepe Lobo, candidato do Partido Nacional com maiores chances de vencer o pleito. Evitando qualquer posicionamento político que possa não só acirrar a crise política no país como também fazê-lo perder votos, Lobo prefere transferir responsabilidade sobre o presidente deposto ao Congresso. Em entrevista coletiva, ontem, ele admitiu que terá de dialogar com Zelaya caso vença as eleições, mas prefere o discurso em torno de uma unidade nacional.

- As medidas que podemos adotar vão depender do resultado do diálogo com organizações partidárias, de trabalhadores, empresários e Igreja - diz ele, sorridente.

Antes da entrevista, Pepe passou pela barbearia do hotel. Cortou o cabelo enquanto era fotografado pela imprensa. Minutos depois, entre piadas e declarações evasivas, evitou polemizar sobre o fato de alguns países, como o Brasil, não reconhecerem a eleição de amanhã.

O candidato pretende o quanto antes uma aproximação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Diz que pretende implantar em Honduras programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

- O Bolsa Família é um programa que temos muito interesse de implantar aqui. E tenho certeza de que o governo do presidente Lula estará disposto a colaborar com o novo governo hondurenho. Lula é um amigo - diz Lobo, que pretende "bater na porta" de países contrários às eleições, como o Brasil.