Título: Lula chora ao ver sua vida na tela
Autor: Aggege, Soraya; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 30/11/2009, O País, p. 4

Presidente assiste à sessão em São Bernardo acompanhado de amigos e políticos

SÃO BERNARDO DO CAMPO, SP. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chorou mais ao saber da morte da mãe, dona Lindu, na versão apresentada na tela, do que seu personagem, interpretado pelo ator Rui Ricardo Dias. Com um lenço branco, ao lado da mulher, Marisa Letícia, e da ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à sucessão, Lula enxugou as lágrimas e o suor do rosto, na noite de sábado, quando "Lula, o Filho do Brasil", foi exibido para uma plateia de 2.200 políticos, sindicalistas, parentes e jornalistas nos antigos estúdios da Vera Cruz, em São Bernardo do Campo. Lula teria ficado tão comovido com o filme que cancelou a entrevista, marcada para depois do filme, no fim da noite.

- Aquele foi o momento (a morte da mãe) em que ele mais se emocionou. E nós todos nos emocionados. Foi um momento muito forte porque Lula era muito chegado à mãe - conta o ex-sindicalista e ex-petista Djalma Bom, amigo de Lula há 40 anos.

Para ele, o filme difere da realidade:

- A vida de Lula e mesmo o livro de Denise Paraná (a biografia que originou o filme) são muito mais ricos. Tem muitas diferenças entre a história real e o filme. A prisão, por exemplo. Eu fiquei preso com o Lula durante aqueles 31 dias. Não teve nada daquilo de todos no chão. Havia beliches.

O amigo do presidente pontua outras diferenças históricas, como as discussões no sindicato. Quanto a dona Lindu, ele fala da atriz Glória Pires:

- Dona Lindu não era tão bonita. Era aquela mulher nordestina muito sofrida, que criava os filhos. Elas são diferentes. E isso de o Lula falar que é mais bonito que o ator, o Lula é muito convencido - brincou, referindo-se à brincadeira de Lula quando o filme era produzido.

O ator Rui Ricardo Dias, que faz uma imitação perfeita da voz do presidente, admitiu que é um fã de Lula, mesmo antes do filme. À imprensa, não hesitou em dizer:

- Ele é um brincalhão. Mas acho que ele era mesmo mais bonito do que eu.

O diretor do filme, Fábio Barreto, estava apreensivo antes da sessão:

- Dona Marisa gostou. Mas vai ser esquisito para o Lula ver sua própria história em uma tela de cinema. Não imagino a reação - disse.

Barreto fez questão de frisar que o filme não tem intenção eleitoral:

- Lula nem é candidato. Além disso, o filme estava para ser lançado há um ano. Não haverá nenhuma interferência.

Para o presidente do PT paulista, Edinho Silva, Lula poderá transferir votos para Dilma em 2010 somente graças ao desempenho de seus oito anos de governo:

- O que credencia Lula é o processo de transformação do país.

O deputado José Genoino disse que as críticas à possível influência do filme em 2010 são maniqueístas e que "Lula, o Filho do Brasil" mostra que Lula sempre foi um líder de diálogos:

- Lula foi o caminho inclusive para nós, da esquerda dogmática.

A exibição de "Lula, o filho do Brasil" teve problemas na primeira meia hora. O áudio ficou ruim, o que comprometeu o entendimento dos diálogos. O público "perdeu" o fio da cena em que o pai de Lula dita uma carta ao filho mais velho para que ele mande dona Lindu e os filhos mais novos ficarem no Nordeste e, espertamente, o rapaz manda toda a família vender tudo e ir para Santos se juntar a eles.

O áudio foi corrigido, mas o calor dentro da sala de exibição, não. A climatização do ambiente, que borrifava água na plateia, só piorou a situação. Segundo a assistência médica, três pessoas passaram mal com o calor.

Vários líderes petistas assistiram ao filme. O ex-ministro José Dirceu, os ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), o senador Aloysio Mercadante, o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, entre outros. Lula teve seus dois médicos prediletos na sessão de cinema. O cardiologista Roberto Kalil e o "doutor" Sócrates, ídolo corintiano.