Título: Uma resposta para as mulheres
Autor: D'Elia, Mirella; Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 28/05/2009, Política, p. 12

Aspirante à vaga de Procurador-Geral diz que Lula vai levar em conta tendência internacional.

Ela quer dar um olhar diferente ao Ministério Público. Única mulher na disputa pela vaga que será deixada pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, no fim de junho, a subprocuradora-geral Ela Wiecko acredita que o presidente Lula não vai deixar de lado essa particularidade ao bater o martelo. ¿Acho que ele está preocupado em dar uma resposta para as mulheres e, com a demanda internacional, vai levar em conta¿, disse a subprocuradora, que ficou em terceiro lugar na lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República, encaminhada na terça-feira ao Planalto. Professora da Universidade de Brasília (UnB) e com forte atuação na área de direitos humanos, ela disse acreditar que a falta de punição, no direito penal, é um reflexo da realidade ¿ que perpetua as desigualdades sociais. Por isso, defendeu a participação de sociólogos e antropólogos em investigações criminais. ¿Mas essa não é uma visão comum¿, ressaltou.

Em entrevista ao Correio, a subprocuradora também sugeriu uma mudança administrativa que promete levantar polêmica: alterar a composição do Conselho Superior do Ministério Público ¿ integrado, atualmente, somente por subprocuradores-gerais. Mas lembrou que, para isso, não basta apenas consenso. É preciso encaminhar um projeto de lei para o Congresso. ¿Há uma insatisfação muito grande na classe por causa disso. Os procuradores regionais não têm voz¿, declarou.

Subprocuradora defende a participação de sociólogos e antropólogos nas investigações criminais.

MULHER NA PGR Acho que, se ele (o presidente Lula) está preocupado em dar uma resposta para as mulheres ¿ que são maioria do eleitorado ¿ e, com a demanda internacional, vai levar em conta (o fato de ela ser uma mulher).

VISÃO Na investigação criminal, se pensa sempre numa assessoria que entenda de segurança, de informação. Eu acho que você tem que ter também o apoio de um sociólogo, um antropólogo. Há todo um conhecimento multidisciplinar que você tem que trazer para a investigação criminal. Mas essa não é uma visão comum. A visão (no MP) é muito tradicional.

LEGISLAÇÃO O modelo da nossa legislação segue o modelo internacional. E nem teria muita opção. Mas eu acho que a gente pode trabalhar tentando entender como as coisas acontecem no Brasil porque a cultura brasileira, apesar de vivermos num mundo globalizado, tem diferenças.

TRANSPARÊNCIA Você ainda encontra procuradorias em que a informação não flui. É preciso vencer isso. Hoje há muitos jovens que usam muito a internet, que prezam a eficiência. Eles estão interessados (na transparência). O Ministério Público está sendo tachado de não ter transparência.

MODERNIZAÇÃO A implantação do Sistema de Informações Gerenciais começou em 2003 e estamos em 2009. São seis anos e não temos um sistema único implantado. Por quê? Para mim, a chave está justamente no fato de terem sido decisões tomadas de cima para baixo. Temos que fazer um diagnóstico. Para fazer um planejamento você tem que envolver todo mundo. E isso nunca foi feito. Esse é o desafio. Se você não envolve todas as pessoas, não vai para frente.

MUDANÇAS Temos algumas dificuldades legais para fazer uma reorganização administrativa e alterar, por exemplo, a composição do Conselho Superior do Ministério Público (que é composto somente por subprocuradores-gerais). Há uma insatisfação muito grande na classe por causa disso. Os procuradores regionais não têm voz. Eles ficam meio perdidos. A gente tenta abrir espaço, mas não é um espaço que está definido em lei. Tem coisas que se não for por lei, nem adianta consenso.