Título: Camisas da Polícia Civil roubadas
Autor: Santiago, Anna Luiza; Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 30/11/2009, Rio, p. 8

Delegado admite vulnerabilidade no transporte de uniformes

UMA DAS camisas e o restante do material apreendido na operação em Muriqui

O fato de os bandidos terem se passado por policiais civis durante o resgate dos presos da Polinter do Grajaú pode estar relacionado ao desvio de 26 das novas camisas da corporação, há cerca de um mês. Na administração anterior, a Polícia Civil adquiriu um lote de três mil camisas cinza, com o nome da instituição na cor preta, de uma empresa do Nordeste. Embora as caixas tenham chegado ao Rio lacradas, elas estavam deterioradas.

O titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), Deoclécio Francisco de Assis Filho, responsável pela investigação, não tem dúvidas: bandidos roubaram as camisas para se passar por policiais em operações de resgate de presos, além de assaltos a caminhões de carga e carros-fortes. Segundo o delegado, a encomenda passou por quatro transportadoras, em estados diferentes, até chegar ao Rio, o que dificulta ainda mais a investigação.

¿ O sistema de transporte das empresas é muito vulnerável. O lacre é verificado, mas não se presta atenção ao estado geral das embalagens ¿ diz Assis Filho.

No último dia 9, ao verificar a denúncia de que traficantes estavam reunidos em um sítio no distrito de Muriqui, em Mangaratiba, o delegado da DRFC teve sua atenção voltada para o desvio do material da polícia. Lá, foram achadas 11 camisas, algumas com etiquetas cortadas.

¿ Qualquer uniforme das polícias pode ser confeccionado facilmente. Até as instituições militares sofrem com isso. O que nos causou estranheza no material apreendido em Muriqui foi o fato de as etiquetas das camisas terem sido cortadas. Elas foram encaminhadas à perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). Algumas eram muito parecidas com as nossas, e outras eram do tipo dry fit (tecido que absorve o suor e mantém o calor corporal) ¿ diz o delegado Assis Filho.

Além das camisas, a polícia apreendeu no sítio dois carros roubados e com placas clonadas ¿ uma delas da Secretaria de Segurança e outra, de um veículo usado no Pan de 2007, em nome da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp). Segundo Assis Filho, o sítio foi alugado por traficantes da Favela Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão.

Durante a operação policial em Muriqui, as equipes da DRFC e a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) fizeram buscas na mata. Um homem chegou a ser baleado.

A apreensão de uniformes das polícias e das Forças Armadas em redutos do tráfico tem ocorrido com frequência. A facilidade para adquirir fardas completas impressiona. Elas estão à venda até pela internet, sem a exigência de identificação. O próprio comandante-geral da Polícia Militar, Mário Sérgio Duarte, já reconheceu a fragilidade do sistema. O uniforme é entregue pelo Correio.