Título: Depois de Delúbio, um sindicalista do grupo deve herdar o caixa do PT
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 29/11/2009, O País, p. 10A

Indicado por Dutra, favorito é alvo de investigações do Ministério Público de SP

SÃO PAULO. Depois do terremoto Delúbio Soares ¿ tesoureiro que ajudou a levar o partido ao caso do mensalão ¿, o PT deve escolher oficialmente em janeiro, para comandar suas contas em 2010, outro sindicalista do mesmo grupo político. Indicado para o cargo pelo presidente eleito do partido, José Eduardo Dutra, João Vaccari Neto não se envolveu no mensalão, mas é alvo indireto de investigações no Ministério Público, sempre por suspeita de ajudar a alimentar irregularmente o caixa do partido com recursos de uma cooperativa habitacional que preside, a Bancoop. Escaldado com o mensalão, o PT decidiu que não misturará suas finanças com as da campanha da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), que terá tesoureiro próprio em 2010.

¿ Vaccari é competente e uma das pessoas mais corretas que conheço. Se vai ser o tesoureiro do PT ou não, quem deve decidir são os integrantes das chapas que escolherão os 11 secretários da nova direção, cujo processo está sendo conduzido pelo novo presidente, recémeleito, o José Eduardo Dutra ¿ diz o deputado Ricardo Berzoini, atual presidente do PT.

Dez anos à frente de sindicato

Vaccari presidiu por dez anos o Sindicato dos Bancários. Foi da direção da CUT (Central Única dos Trabalhadores). Hoje está à frente da Bancoop, cooperativa habitacional do Sindicato dos Bancários, alvo de cerca de 700 processos de associados e de investigações do Ministério Público Estadual (MPE).

O provável tesoureiro foi alvo de investigações da Polícia Federal por suposto envolvimento na tentativa de compra do dossiê forjado contra tucanos na campanha de 2006. A PF descobriu que Vaccari falou ao telefone com o ¿aloprado¿ Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha do senador Aloizio Mercadante para o governo de São Paulo, em 2006, no momento em que Lacerda estava no hotel em que era negociada a compra do dossiê contra o então candidato ao governo pelo PSDB, o atual governador José Serra. Vaccari é segundo suplente do senador Mercadante. Mas não está entre os denunciados pela PF.

Cinquentão, casado e muito discreto, é amigo tanto de Berzoini quanto do ex-ministro Luiz Gushiken, que, assim como Berzoini, atuou à frente do Sindicato dos Bancários. Foi secretáriogeral da CUT na gestão do deputado Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (1994-1997), e secretário de Relações Internacionais e membro da Executiva Nacional da CUT entre 2003-2006, na gestão Luiz Marinho, atual prefeito de São Bernardo do Campo.

Atuação discreta nos bastidores

Além de avaliar que as investigações da Bancoop ainda estão longe de uma acusação e que não há provas contra ele, a direção do PT considerou que, ao contrário de Delúbio, Vaccari não é nada afeito às indiscrições.

Atuando nos bastidores desde a fundação do PT e da CUT, Vaccari opera em silêncio e goza da confiança do grupo majoritário que comanda o PT.

¿ Não vamos repetir o episódio Delúbio. Teremos cuidado total. Vaccari tem experiência em tesouraria, um bom passado na CUT, é organizado, bem aceito majoritariamente. Quanto às investigações, estamos convictos de que não se trata de erros de Vaccari. Na Bancoop, ele assumiu a presidência para contornar problemas que tinham ocorrido antes ¿ disse um dirigente do PT.

Mesmo ainda não tendo escolhido Vaccari oficialmente, o partido iniciará, nesta semana, uma transição do cargo de tesoureiro ¿ do atual, Paulo Ferreira, para Vaccari. Embora a posse da nova direção ocorra somente no início de 2010, o partido optou por evitar rupturas no sistema pós-mensalão, aplicado por Ferreira.

Segundo um dirigente petista, desde o episódio dos recursos não contabilizados, Ferreira relata nas reuniões da executiva nacional todos os passos financeiros.

As entradas e saídas de verbas são apresentadas à executiva.

O partido espera agora que a transição com Vaccari não tenha problemas.

Conselheiro administrativo da Itaipu Binacional, Vaccari foi procurado ao longo da semanapelo GLOBO, mas se recusou a dar entrevistas. A assessoria da Bancoop não se manifestou.

O promotor de Justiça José Carlos Blat iniciou investigações sobre a Bancoop em 2007. Ele obteve a quebra do sigilo bancário da cooperativa, mas aguarda os dados. Segundo o promotor, não há dúvidas de que a Bancoop serviu como organização criminosa e para fins eleitoreiros, com doações ao PT. As suspeitas são de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, estelionato, apropriação indébita e falsificação de documentos: ¿ Apuramos indícios de possíveis crimes eleitorais. A suspeita é de que um total de R$ 100 milhões pagos pelas vítimas e por fundos tenham sido usados para fins político-partidários.

Não se trata só de Vaccari, mas de vários dirigentes da entidade.

Não tenho dúvida de que ocorreram crimes eleitorais.

Mas é cedo para apontar nomes ¿ disse Blat, explicando que encaminhou o caso para o MPF e para a Promotoria Eleitoral.

O procurador da República Rodrigo De Grandis, encarregado do caso pelo MPF, informou que recebeu a denúncia e apura possíveis crimes financeiros na cooperativa.

Ele não quis, no entanto, comentar o andamento das investigações.

A Bancoop alega que os cooperados precisam quitar as dívidas, que chegam a R$ 160 milhões.

A suspeita de Blat é que o dinheiro teria sido escoado para o partido por meio das empresas, que fariam as doações ao PT. Os suspeitos são os fundadores da cooperativa, entre eles Vaccari e o atual presidente do PT, Ricardo Berzoini