Título: Qatar tenta atrair estudantes internacionais
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 29/11/2009, Economia, p. 36

Regimes políticos dificultam modernização da economia local

DUBAI. Entre os casos bem-sucedidos de diversificação da economia no Golfo, Qatar é outro exemplo. Além de alargar sua base de serviços financeiros, Qatar tem feito investimentos pesados no ensino superior ¿ o país hoje conta com uma série de franquias de algumas das principais universidades americanas, de olho numa base de estudantes internacionais da região, em especial muçulmanos.

Nos Emirados Árabes Unidos e no Qatar, por sinal, o setor de petróleo e gás natural já não é a principal atividade econômica na composição do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e riquezas produzidas no país), por mais que ainda seja responsável por fatias substanciais nas receitas tributárias nacionais.

¿ Há um compromisso muito sério por parte dos países do Golfo no que diz respeito à redução da dependência do petróleo e à diversificação econômica, incluindo energias alternativas, mas os esforços ainda me parecem muito individualizados. Seria muito mais interessante investir num tipo integração em que não haja competições. Não há espaço para todo mundo ser um centro financeiro ou um polo turístico, por exemplo ¿ afirma o iemenita Nabil Sultan, analista dos países do Golfo especializado em políticas econômicas.

Barganha com classe média e pouca iniciativa privada

Sultan toca num ponto sensível das discussões: embora os principais países árabes da região (Arábia Saudita, Barein, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã) tenham formado em 1981 um o Conselho de Cooperação dos Países do Golfo (GCC), abolindo vistos e criando um mercado comum, a relação ainda é marcada por rusgas, ao ponto de os Emirados Árabes Unidos terem decidido abandonar o projeto para a criação de uma moeda comum depois de os outros países não concordarem com a proposta de Abu Dhabi sediar o novo Banco Central.

Outra preocupação é com a natureza autocrática e paternalista dos sistemas políticos locais, que resultou, especialmente nos países de menores populações, numa barganha com a classe média em que o Estado dá benefícios materiais sem exigir muito trabalho de volta, incluindo na iniciativa privada ¿ não é por acaso, por sinal, que a maioria esmagadora da força de trabalho nos Emirados Árabes Unidos e no Qatar, por exemplo, é estrangeira.

¿ A cultura política precisará de mudanças e as autoridades terão de dar mais voz ao setor privado. Mas não tenho dúvidas de que em 20 anos estaremos vendo os países do Golfo ainda em situação privilegiada ¿ completa Nabil. (Fernando Duarte, o repórter viajou a convite do governo dos Emirados Árabes Unidos)