Título: Meirelles vê em Dubai um alerta para excessos
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 29/11/2009, Economia, p. 36

Abu Dhabi estuda ajuda seletiva a emirado vizinho

SÃO PAULO, ABU DHABI e DUBAI. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, voltou a alertar ontem sobre o risco da euforia dos mercados diante de uma crise global que ainda não acabou. No Fórum de Líderes Empresariais, em São Paulo, Meirelles citou o caso de Dubai como emblemático:

¿ Um ensaio cujas consequências ainda não vimos é essa questão de Dubai. É o que nós temos alertado: existem problemas à frente. A recuperação da economia mundial ainda está sujeita a muitas incertezas. O sistema financeiro mundial não absorveu todas as perdas que possivelmente terá no decorrer do processo ¿ afirmou o presidente do BC. ¿ Foi um alerta: vamos evitar excesso de exuberância.

Ontem o governo de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos (EAU), informou que vai escolher a dedo como ajudar o vizinho Dubai. Muitos investidores apostavam que o rico emirado de Abu Dhabi seria uma rede de segurança para o vizinho.

¿ Nós vamos analisar os compromissos de Dubai e vamos avaliar caso a caso. Isso não significa que Abu Dhabi vai subscrever todos os débitos ¿ afirmou à agência Reuters uma autoridade do governo de Abu Dhabi, que pediu para não ser identificada. ¿ Abu Dhabi vai escolher a dedo quando e onde dar assistência.

Já a agência de notícias Zawya Dow Jones informou ontem que o Banco Central dos EAU pode apresentar uma garantia para a dívida de US$59 bilhões do conglomerado estatal Dubai World, que foi o estopim da crise. Isso evitaria que os bancos locais com exposição em Dubai fizessem provisões para perdas. Amanhã uma unidade da Dubai World, a Jebel Ali Free Zone Authority, tem um vencimento de US$2,04 bilhões em bônus islâmicos. Será o primeiro teste de um possível calote.

Meirelles, sobre IPI: `Cada um está fazendo o dever de casa¿

Em São Paulo, o presidente do BC disse ainda que o Brasil está se tornando uma ¿potência mundial¿ exportadora de commodities e deve desenvolver um modelo econômico que concilie esse perfil com a capacidade de continuar produzindo manufaturas. E afirmou que o Ministério da Fazenda está fazendo análises para estimular o consumo, com redução a zero da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para determinados produtos:

¿ O Ministério da Fazenda está decidindo quando e como fazer a aplicação dos incentivos. Estamos simplesmente monitorando os resultados. O G-20 declarou que os incentivos devem ser retirados na hora certa. Hora certa significa: nem muito cedo, nem muito tarde. Cada um está fazendo o seu dever de casa, certamente o Brasil também.

(*) Com agências internacionais