Título: Em 3 anos, Light distribuiu R$ 1,5 bi em lucro
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 27/11/2009, Rio, p. 15

Valor é quase o dobro do que consórcio pagou a grupo francês EDF em 2006 para adquirir controle da empresa

Desde que foi comprada pelo consórcio Rio Minas Energia (RME) em 2006, a Ligth já distribuiu lucros de R$ 1,55 bilhão a acionistas e minoritários, quase o dobro do valor pago pelo controle da empresa à francesa EDF. Na época, o negócio foi fechado por US$ 319,809 milhões, ou R$ 830 milhões, considerando o dólar na data e a correção pela inflação. Já os investimentos aumentaram em 65% na média anual desde então, frente a anos anteriores.

Uma hipótese com que os analistas do setor trabalham é a possibilidade de os recentes problemas operacionais da Ligth se deverem ao mau direcionamento dos investimentos.

O analista da Ativa Corretora Ricardo Corrêa observa que os investimentos são anualmente aprovados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Depois, parte é compensada nos reajustes tarifários. Ou seja, algum dinheiro volta para as empresas. Mas o que a empresa gasta com manutenção não tem qualquer ressarcimento.

- O que ocorreu, provavelmente, foi a combinação de falta de manutenção com problemas na capacidade de abastecimento. A gente tem visto grandes investimentos em prevenção de ¿gatos¿, que é um problema sério, uma mazela. Mas isso pode estar drenando gastos com a manutenção da rede ¿ diz.

Corrêa não vê excessos na distribuição de lucros a investidores. Segundo ele, os resultados obtidos pela empresa nos últimos anos seriam suficientes para remunerar acionistas e, ainda, permitir o aumento dos investimentos:

- Três troncos tiveram problemas, e isso é questão de manutenção. A Light deve ser responsabilizada. Mas é um problema de planejamento interno, não de falta de dinheiro.

Dados da Economática mostram que, em média, o retorno anual dos investidores que aplicaram nas ações da Lihth, apenas com os dividendos da empresa, foi de 11% em 2007, 9,5% em 2008 e 13,3% em 2009.

Maior parte do investimento foi em manutenção, diz Ligth

Para efeito de comparação na Eletropaulo, o retorno foi de 15,61%, 10% e 22,8%, na mesma ordem. Na Coelce, do Nordeste, os números ficaram em 12,7%, 14,6% e 15%, respectivamente.

A analista de energia da SLW Corretora Rosangela Ribeiro também acha que o problema está na manutenção.

- Ela pode estar fazendo um investimento maior na rede aérea, instalando novos medidores para evitar o roubo de energia, em vez de aplicar na proporção necessária na rede subterrânea, mais sensível ao calor intenso eu tem feito. Mas é algo que temos que confirmar a partir de um detalhamento maior da empresa.

Procurada, a Ligth detalhou os investimentos médios dos últimos dez anos, mas não deu números isolados de períodos recentes. Segundo a empresa, dos R$ 5,2 bilhões investidos desde 1999 em distribuição, os gastos com expansão ficaram com 37%, enquanto os de manutenção do sistema foram de 62%.

Do ponto de vista de analistas é favorável à empresa.

- A leitura é positiva mesmo com questões difíceis que ela enfrenta no Rio, pois a atual gestão melhorou a dívida e fez a empresa dar lucro ¿ diz Rosana.

Para Correa, resta saber se as ações sofrerão algum efeito de eventuais multas da Aneel e ações na Justiça. Ontem, a ação da Ligth ON caiu 1,21%.

Colaborou: Ramona Ordonez