Título: Crédito e juros reagem à crise
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 28/05/2009, Economia, p. 20

Impulsionados por financiamentos habitacionais e desconto em folha, bancos emprestam R$ 1,248 trilhão em abril, volume recorde no país. Encargos caem e voltam ao nível pré-turbulência.

A crise econômica parece ter abandonado o universo do crédito bancário e das taxas de juros. Pelo menos para as pessoas físicas. Segundo os dados divulgados ontem pelo Banco Central, o nível de consumo já voltou a subir, ao mesmo tempo em que caíram as taxas de juros dos principais empréstimos feitos pelos bancos aos clientes. Impulsionado pelo crédito para a aquisição da casa própria e pelo empréstimo com desconto em folha, o consignado, o volume de crédito total, disponível na economia, bateu em R$ 1,248 trilhão em abril, o equivalente a 42,6% do Produto Interno Bruto (PIB). É a relação crédito/PIB mais alta da história do país até o momento.

Dentro do crédito total, quem mais contribuiu para a expansão foi o financiamento à casa própria. O governo, nos últimos tempos, adotou uma série de medidas de incentivo à compra do imóvel, como a ampliação dos prazos e dos limites de financiamento. Tem dado certo. De acordo com os números do Banco Central, só o crédito concedido às pessoas físicas para a compra da casa própria subiu 2,6% de março para abril , batendo em R$ 69,5 bilhões no mês. Em 12 meses, o crescimento foi de 40%.

O crédito consignado também contribuiu para o aumento dos recursos à disposição dos clientes bancários. ¿Voltou a aumentar a velocidade desses empréstimos¿, reconheceu o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (Depec), Altamir Lopes. Em abril, o volume de crédito consignado superou R$ 85 bilhões, com crescimento de 3,4% em relação ao mês anterior e de 8,8% no ano. Em 12 meses, o desconto em folha cresceu 21%.

São os bancos públicos que, pressionados pelo governo, vêm ganhando mercado na concessão de empréstimos. Há um ano os bancos públicos respondiam por 34% de todo o crédito bancário concedido no país. Hoje, a participação deles é de 38%. Enquanto as instituições públicas ganharam espaço, os bancos privados nacionais e estrangeiros perderam, cada um deles 2% num intervalo de 12 meses.

Inadimplência O aumento do crédito com redução da taxa de juros veio acompanhado da redução da inadimplência das pessoas físicas. O atraso no pagamento das dívidas bancárias caiu de 8,4% em março para 8,2% em abril. Essa queda, no entanto, não foi suficiente para impedir o aumento do calote geral, que passou de 5% das operações de crédito para 5,2% em abril, o nível mais alto desde outubro de 2000.

Essa elevação foi centrada nas empresas. O atraso no pagamento das obrigações por parte das pessoas jurídicas passou de 2,6%para 2,9% de março para abril. Aliás, no mês de abril, as empresas sofreram com a retração do crédito, aumento das taxas de juros de várias operações de crédito, especialmente as de curto prazo, além da ampliação da inadimplência.

Segundo Altamir Lopes, isso acontece porque a recuperação do crédito para as empresas é mais lenta. Algumas linhas afetadas pela inadimplência mais elevada, explicou, ainda refletem a dificuldade de captação de recursos. O volume do crédito para as empresas, por exemplo, sofre a influência da apreciação cambial de 5,9% no mês. ¿ Em reais, o volume de crédito para as empresas caiu, mas quando fazemos a conta em dólar, o volume aumentou em cerca de 1%¿, esclareceu o chefe do Depec.

Para o mês de maio, os dados coletados pelo Banco Central até o dia 14 indicam a mesma tendência de abril. O volume total de crédito cresce 0,2% impulsionado pelo aumento dos financiamentos para as pessoas físicas em 1,5%. A oferta de crédito para as empresas continua caindo. Em relação às taxas de juros, a situação é idêntica. As taxas caem um ponto percentual para as pessoas físicas, mantendo-se estáveis para as empresas.