Título: Amazônia: cúpula esvaziada
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Fonte: O Globo, 27/11/2009, Ciência, p. 34
Só Lula, Sarkozy e o presidente da Guiana comparecem
MANAUS. Num encontro esvaziado, países da Amazônia aprovaram documento genérico prometendo preservar a floresta da região. A ideia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de reunir oito presidentes da Amazônia, mais o presidente da França, para dar peso político às propostas que serão levadas ao encontro de cúpula em Copenhague acabou não vingando. Da lista de convidados, só apareceram o presidente da Guiana, Bharrat Jagdo, e o francês Nicolas Sarkozy. Cancelaram na última hora, os presidentes da Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Suriname e Venezuela.
Até a declaração final refletiu o esvaziamento da reunião. O texto afirma que as nações estão dispostas a conservar a floresta e a tomar atitudes contra o desmatamento e as queimadas, mas deixa claro que tais ações necessitam de apoio financeiro e tecnológico dos países desenvolvidos. O documento final acabou se revelando mais genérico do que se esperava, porque não se chegou a um consenso sobre qual seria a forma de financiamento - se de um fundo público ou se haveria recursos da iniciativa privada. Apesar da reunião de cúpula esvaziada, Lula negou que o documento final não represente a opinião da região.
- Não está esvaziada. O documento tem a mesma validade do que se tivesse sido assinado por todos os presidentes - declarou.
- O documento assinado aqui é que vai balizar o comportamento dos presidentes da América do Sul em Copenhague.
O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, discordou que a cúpula tenha sido esvaziada.
- Não estamos fazendo um espetáculo. Estamos querendo um ponto de acordo dos países amazônicos.
Antes da reunião, em discurso empolgado, Lula mandou um recado aos países ricos.
- Que não venha nenhum gringo pedir para a gente deixar um amazonense morrer de fome embaixo do toco de uma árvore, porque nós queremos preservar, mas eles terão que pagar a conta da preservação, pelo fato de nós não termos derrubado a nossa floresta como eles já derrubaram a deles, há um século. Então, queremos usufruir corretamente - discursou.
Ao falar do compromisso voluntário do Brasil em reduzir a emissão de gases de efeito estufa em até 38,9%, Lula, mais uma vez, cutucou os países mais desenvolvidos:
- Nós queremos mostrar para os nossos amigos americanos, para os nossos amigos europeus, que aqui no Brasil a gente fala menos e faz mais. A gente não é como aqueles que falam: "Eu mato a cobra e mostro o pau". Ora, quem mata a cobra e mostra o pau, não mostrou a cobra morta. Aqui, a gente mata a cobra e mostra a bichinha morta, a gente não mostra indiferença.
O documento pede que os recursos para adaptação dos países em desenvolvimento sejam aumentados. "Para fortalecer as ações dos países em desenvolvimento tanto em mitigação, quanto em adaptação, fluxos de apoio financeiro e tecnológico novo e adicional dos países desenvolvidos devem aumentar de modo significativo e suficiente no curto, médio e longo prazo." O presidente da França, Nicolas Sarkozy, convidado por Lula, defendeu que 20% de um fundo internacional seja destinado à preservação da Amazônia.