Título: China também tem meta
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Fonte: O Globo, 27/11/2009, Ciência, p. 34

Pequim anuncia compromisso voluntário para reduzir emissões e envio do primeiro-ministro à cúpula de Copenhague

País que mais emite CO2 no mundo, a China anunciou ontem que também tem um compromisso climático. Um dia após os Estados Unidos apresentarem suas metas, Pequim prometeu uma redução em 2020 de 40% a 45% na "intensidade de carbono da economia" em relação às emissões de 2005. Como o Brasil, a China não apresentou metas propriamente ditas, mas sim um compromisso de diminuição do lançamento futuro de CO2.

Pressionados pelos comunidade internacional após dizerem que não haveria acordo na conferência do clima de Copenhague, China e EUA acabaram por ceder, apresentaram planos e confirmaram a presença de seus governantes. O presidente Barack Obama vai à Dinamarca. E, ontem, Pequim anunciou que o primeiro-ministro Wen Jiabao também estará lá em dezembro.

Investimento em energia limpa

Pelo acordado na conferência do clima de Bali, em 2007, os países em desenvolvimento não precisam de fato ter metas de redução do mesmo tipo que as de países desenvolvidos. E a proposta chinesa segue essa linha. Os percentuais aparentemente ambiciosos de redução de carbono se referem a cortar o CO2 que é emitido por yuan (moeda chinesa) de atividade econômica.

Porém, como as previsões de especialistas indicam que a economia chinesa já ia se tornar menos dependente de CO2 na próxima década, o compromisso chinês, na verdade, somente contabilizará uma redução de entre zero e 12% das emissões em 2020 (dependendo de que cenário de crescimento econômico se use para fazer a conta). E significará que a China estará em 2020 emitindo 40% mais CO2 do que hoje. Sem as reduções anunciadas hoje, porém, esse percentual seria muito maior.

Aproximadamente 90% da matriz energética chinesa é baseada em usinas a carvão, as que mais emitem CO2. Por isso, para a China reduzir carbono significa promover mudanças profundas na economia.

A proposta americana não é muito melhor do que a de Pequim. Cortar 17% das emissões em 2020 aos níveis de 2005 significa na verdade uma redução de 4% se comparado com o ano base de 1990.

Ainda assim, a decisão da China foi saudada por governos e ambientalistas porque é fundamental ter a China em qualquer acordo sobre o clima. As emissões chinesas dobraram em uma década. Em 2008 chegaram a seis bilhões de toneladas de CO2.

O secretário-geral da Convenção de Mudanças Climáticas da ONU, Yvo de Boer, disse agora estar esperançoso de um acordo real em Copenhague. De Boer destacou ainda que a China tem investido mais que qualquer outro país em eficiência energética e energias limpas. Para De Boer, o caminho está aberto para um pacto global.

Agora, a Índia é o único grande país em desenvolvimento que não tem planos ou metas para combater as mudanças climáticas. Brasil e Indonésia já apresentaram metas de redução para 2020.

Mas, ontem, Pequim também deixou claro que espera uma contrapartida significativa dos países ricos, historicamente os maiores emissores de gases do efeito estufa. O principal negociador de clima da China, Xie Zhenhua, disse que os países ricos têm falhado em cumprir suas promessas e demonstrado pouco comprometimento. E sem isso a China considera ser impossível pensar em acordo global contra as mudanças climáticas.