Título: Saga hondurenha
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Fonte: O Globo, 01/12/2009, Opinião, p. 6

Enquanto outros países demonstram flexibilidade diante das eleições em Honduras, considerandoas o marco inicial do fim da crise criada com o golpe de Estado de junho, o Brasil está inamovível: não reconhece o resultado porque o presidente deposto, Manuel Zelaya, não foi reconduzido ao cargo antes do pleito, que assim teria o ¿pecado original¿ de ter sido realizado por um governo ilegítimo.

Ainda ontem, na Cúpula IberoAmericana, no Estoril, Portugal, o presidente Lula reafirmou a posição brasileira, que é compartilhada por importantes países sul-americanos, como Chile e Argentina, mas é também a do bloco bolivariano, liderado pela Venezuela. Não esquecer que Zelaya pretendia fazer de Honduras o segundo país centroamericano do bloco, ao lado da Nicarágua.

À Venezuela e aliados não interessa o fim do impasse, pois significaria renunciar às suas esperanças em relação a Honduras.

As eleições, marcadas antes do golpe, se tornaram o fato político mais importante para quebrar o impasse que se produziu com a ascensão ao poder do presidente do Congresso, Roberto Micheletti, e da volta ao país de Zelaya, acolhido pela Embaixada do Brasil, de onde passou a exortar seus seguidores a agir contra o governo interino.

Na reunião no Estoril, o chanceler da Espanha, Miguel Angel Moratinos, deu mostras de flexibilidade ao declarar que o país ¿não reconhece as eleições, mas também não é indiferente a elas¿. O presidente da Costa Rica, Oscar Arias, que liderou diversas missões de negociação da OEA à capital hondurenha, disse que acolherá o resultado ¿se não houver acusações de fraude dos observadores¿.

Os EUA reconheceram o pleito, na companhia de Colômbia, Peru, Costa Rica e Panamá. Mas a Casa Branca quer que os líderes hondurenhos formem um governo de união nacional até a posse do eleito, o conservador Porfirio Lobo, no dia 27 de janeiro. Amanhã, o Congresso hondurenho se reúne para votar se Zelaya deve voltar à presidência para dar posse ao eleito, no dia 27. Se votar afirmativamente, o Brasil terá uma saída honrosa para demonstrar pragmatismo e contribuir para a normalização institucional em Honduras. Uma decisão contrária do Congresso deixará o Brasil em situação ainda mais difícil.