Título: Alerta ao eleitor
Autor:
Fonte: O Globo, 01/12/2009, Opinião, p. 6

As cenas do governador Jos é Roberto Arruda (DEM), do Distrito Federal, recebendo um maço de cédulas de Durval Barbosa Rodrigues, à época, 2006, presidente da Companhia de Planejamento do DF, vão se juntar àquelas em que Maurício Marinho, protegido de Roberto Jefferson nos Correios, pratica ato idêntico de embolsar dinheiro de forma ilegal, e se tornam peças de ilustração de dois dos piores momentos da baixa política brasileira desde a redemocratização.

As repercussões do vídeo de Marinho levariam Roberto Jefferson, deputado e presidente do PTB, a denunciar o mensalão, esquema de coleta irregular de recursos ¿ inclusive públicos ¿ montado dentro do PT para irrigar bancadas aliadas no Congresso. Agora, com os fatos descobertos a partir de denúncias do próprio Durval, convertido em colaborador da PF nas investigações, em troca da redução de pena no processo que fatalmente enfrentará, quase todos os grandes partidos contam com seu mensalão: o método foi lançado no PSDB mineiro, na tentativa frustrada de reeleição do governador Eduardo Azeredo, com a mesma tecnologia de desvio de recursos desenvolvida por Marcos Valério, que ofereceria o método ao PT de Delúbio, Genoino e José Dirceu. O esquema reaparece agora no DF, no DEM, com Arruda e pessoas egressas do governo de Joaquim Roriz, entre eles o próprio governador, secretário de Obras naquele período. O objetivo, o mesmo do mensalão petista: azeitar votações parlamentares. Tudo somado ¿ mensalões, escândalos variados no Congresso, onde transcorrem shows de compadrio, nepotismo e malversação generalizada de dinheiro público ¿, resulta um cenário em que o estágio ético da política poucas vezes esteve em ponto tão baixo. Para piorar, o próprio governo federal, com as práticas fisiológicas de obter apoio político, em nada ajuda no saneamento da vida pública. Ao contrário.

No debate sobre corrupção promovido ontem na sede do GLOBO, Maria Aparecida Fenizola, vice-presidente do Instituto de Desenvolvimento de Estudos Políticos e Sociais, afirmou não haver esperança de mudanças se não houver mobilização na sociedade. ¿É importante que a sociedade acorde e assuma o seu compromisso sobre o que ocorre hoje na administração pública no Brasil¿, disse, com a concordância de outro participante do encontro, senador Pedro Simon (PMDB-RS). Não há dúvida que é necessário pressionar por mudanças na legislação, para limpar o mundo da política. Há, nesse sentido, um projeto popular, sustentado por 1,3 milhão de assinaturas, feito para impedir a entrada dos fichassujas na vida pública. Sem cobrança, ele morrerá na gaveta. A persistência de esquemas ilegais como o do mensalão reforça propostas de elevação de barreiras contra o refúgio de delinquentes na política, e destinadas a aumentar o poder de fogo da Justiça contra a corrupção.

Descoberto às vésperas de mais um período eleitoral, o mensalão do DEM serve de alerta sobre o que fazer com o voto em 2010.