Título: Delator era ligado a Roriz e Arruda
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 01/12/2009, O País, p. 9

Nas gravações, políticos pedem favores a Durval e o tratam até com reverência

BRASÍLIA. Pivô do escândalo de corrupção que atingiu em cheio o governo do Distrito Federal, o delegado aposentado da Polícia Civil Durval Barbosa Rodrigues aparece nas gravações demonstrando muita proximidade com os envolvidos no escândalo.

Nas imagens, os interlocutores parecem respeitá-lo bastante e o tratam como uma alta autoridade do governo, até com certa reverência. Deputados, secretários e outros políticos pedem sua interferência e ajuda em vários momentos.

O inquérito demonstra que Durval, mesmo já monitorado pela Polícia Federal, agia de maneira independente.

Quando começou, em outubro, a gravar as conversas com aparelhos de escuta da Polícia Federal, o delegado controlava essas gravações. Entre 4 a 8 de novembro, por exemplo, ele simplesmente desligou os equipamentos que estavam instalados na sua sala, o que mereceu registro da PF. Somente quando o final das investigações se aproximava ¿ e o governador José Roberto Arruda e seus secretários já tinham conhecimento que estavam sendo investigados ¿ Durval julgou que corria riscos.

Em momento algum Durval demonstrou ter receio de gravar os encontros e as conversas com as pessoas. A câmera estava sempre na mesma posição, atrás de sua cadeira, sem despertar desconfiança de ninguém. O delegado agia rapidamente nos encontros e se preocupava em logo repassar o dinheiro, sem prolongar demais os diálogos. Nas fitas, esses encontros duram poucos minutos.

Motivado a colaborar e entregar o esquema, para obter o benefício da delação premiada, Durval é réu em 33 processos, sendo 31 na Vara da Fazenda e dois na Vara Criminal do Distrito Federal. Ele foi citado, em 2004, no processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que julgou a perda do mandato do então governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, hoje no PSC.

Roriz foi acusado de abuso de poder econômico durante a campanha para sua reeleição, em 2002.

A Codeplan, já sob o comando de Durval, estava entre as empresas do governo acusadas de fazer repasses ilegais para a campanha. A denúncia foi feita, à época, pelo então vice-procuradorgeral eleitoral, Roberto Gurgel, hoje procurador-geral da República.

Roriz foi absolvido por cinco votos a um.

Durval, no governo de Arruda, assumiu a Secretaria de Relações Institucionais, onde continuou a comandar o esquema de arrecadação ilegal de dinheiro para pagamento de deputados, secretários e empresários, além de repasses direto ao governador.

Por conta própria, Durval passou a fazer as gravações, sem autorização judicial, em 2006. Ao Ministério Público, ele entregou 31 fitas de CDs e DVDs contendo diálogos que envolviam o alto escalão do governo e da Câmara Legislativa.