Título: Divergências complicam o controle dos arsenais
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 31/05/2009, Mundo, p. 18

Sede de poder. Para muitos, é isso o que move os chamados Estados párias, nações que perseguem arsenais nucleares e recusam a assinatura de tratados de não proliferação. Numa época em que organizações terroristas ameaçam a segurança mundial e materiais radioativos seduzem contrabandistas, a Organização das Nações Unidas (ONU) luta para coibir a transferência e a posse de tecnologia nuclear. Mas a batalha quase sempre é inglória. Pouco ou nada pode ser feito contra regimes e governos controversos, afoitos por legitimar-se com a força das bombas atômicas. A Coreia do Norte é um exemplo: a cada crítica da ONU, o regime de Kim Jong-il desafia a entidade com lançamentos de mísseis e ameaça a vizinha Coreia do Sul.

Professor de Desarmamento e Controle de Armas pela Universidade Bilkent, em Ancara, o turco Mustafa Kibaroglu explica que divergências na interpretação do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) ¿ acordo assinado em 1968 para evitar a dispersão de armas atômicas ¿ representam um entrave à imposição do desmantelamento de arsenais proibidos. ¿As obrigações dos Estados não nuclearizados, que os mantêm afastados de desenvolver a capacidade de fabricação de armas atômicas, são balanceadas por seus direitos de fabricar tecnologia nuclear com fins pacíficos¿, explica o especialista, em entrevista por e-mail ao Correio. ¿De qualquer modo, o mecanismo de inspeção original do TNP, conferido pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), não consegue garantir que a linha tênue entre capacidades militares e pacíficas no campo nuclear não seja ultrapassada pelos países.¿

Um protocolo adicional à AIEA tenta fortalecer o regime de salvaguardas. No entanto, Mustafa lembra que a ratificação do documento não é uma obrigação dos países signatários do TNP, o que complica o monitoramento de atividades suspeitas. Diante desse imbróglio, o especialista sugere que as nações mais poderosas da ONU deixem de lado ligações políticas, econômicas e militares e se unam para impor a inspeção do Protocolo Adicional a cada membro do TNP. ¿Todas as nações devem reconhecer que a proliferação das armas de destruição em massa talvez seja o mais importante desafio para a sobrevivência de nossa civilização¿, afirmou Mustafa. Outro mecanismo criado pelos Estados Unidos ¿ em 31 de maio de 2003 ¿ busca impedir o tráfico naval de armas de destruição em massa (veja o mapa). Ao prometer participar da Iniciativa de Segurança de Proliferação (PSI, na sigla em inglês), a Coreia do Sul levou Pyongyang a abandonar o armistício firmado em 1953. (RC)