Título: Guerra de palavras
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 31/05/2009, Mundo, p. 18

Secretário de Defesa dos EUA avisa à Coreia do Norte que o Pentágono não vai se omitir, promete ¿ação rápida¿ e ordena envio de caças para a região. Pyongyang deve lançar míssil de longo alcance em junho

Lee Sae Jong, de 23 anos, ainda não sente os efeitos da tensão que vem da vizinhança. Morador de Dongdaemoongu, um dos 25 bairros de Seul, o estudante universitário sul-coreano se mostra despreocupado com as últimas ameaças dos Estados Unidos, diante da insistência da Coreia do Norte em desafiar o mundo com seu programa nuclear. ¿Muitos de nós não levamos a sério essa atitude de Pyongyang. Eles têm nos ameaçado periodicamente e estamos entediados com essa atitude¿, afirmou ao Correio, por meio de um programa de videoconferência da internet. ¿Nunca pensamos que uma guerra possa ocorrer na Península Coreana¿, acrescentou Jang Han-sol, também universitário de 20 anos, que vive em Daegu, uma das maiores cidade do país, situada 300km ao sul da capital. Mas a guerra que parece tão distante para os sul-coreanos já é considerada uma opção real para o governo norte-americano.

Durante a Conferência Asiática de Segurança, em Cingapura, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, afirmou que o país e seus aliados não se omitirão enquanto o regime de Kim Jong-il ¿constrói a capacidade de semear destruição a qualquer alvo da região¿. ¿Nossa meta é a completa e verificável desnuclearização da Península Coreana, e não aceitaremos a Coreia do Norte como um Estado nuclear¿, acrescentou o secretário, na visita ao Instituto Internacional para Estudos Estratégicos.

A ameaça ficou explícita nas palavras de Gates sobre o que pode ocorrer caso Pyongyang mantenha seu programa nuclear. ¿A verdade é que, se eles continuarem neste caminho, eu acho que as consequências para a estabilidade da região serão significativas.¿ Ele também prometeu uma ¿resposta rápida¿ caso os EUA ou seus aliados se sintam ameaçados.

Os Estados Unidos mantêm 28.500 soldados estacionados na Coreia do Sul. Caças norte-americanos teriam condições de decolar de bases japonesas e alcançar a capital norte-coreana em 30 minutos. O Pentágono também ordenou a dois navios de guerra (destróieres) que permaneçam no norte da Península Coreana. Depois do segundo teste nuclear norte-coreano, na última segunda-feira, 12 caças F-22 Raptors decolaram da base no estado da Virgínia com destino ao Japão. Segundo a agência de notícias espanhola EFE, os supersônicos integram dois esquadrões montados para o reforço da segurança no Pacífico Ocidental.

Apesar de não considerar Pyongyang uma ameaça direta para os Estados Unidos, Gates alertou que o regime de Kim tornou seus próprios programas de mísseis balísticos e nuclear ¿precursores de um futuro sombrio¿. Ele lembrou que tais programas têm isolado o país e ¿literalmente esfomeado seu povo¿. ¿Dependente da caridade da comunidade internacional para aliviar a fome e o sofrimento de sua população, a liderança norte-coreana escolheu focar os recursos limitados e a energia da Coreia do Norte em uma cruel e autodestrutiva busca por armas nucleares e mísseis¿, acrescentou Gates.

Informações divulgadas pela agência chinesa Xinhua indicam que a Coreia do Norte não se intimida com ameaças e já teria embarcado um dos mísseis balísticos intercontinentais em um trem de carga que o levará até a plataforma de lançamento. ¿Gasta-se dois meses para montar uma plataforma, mas o processo pode ser feito em duas semanas, o que significa que o lançamento deve ocorrer na metade de junho¿, disse uma fonte da inteligência sul-coreana.

Diplomacia Se depender dos sinais emitidos por Japão e Rússia, o Conselho de Segurança da ONU deve aprovar em breve uma resolução com pesadas sanções contra a Coreia do Norte. Em conversa telefônica, o presidente russo, Dmitri Medvedev, e o premiê japonês, Taro Aso, concordaram que o teste nuclear da semana passada merece uma ¿resposta firme¿. ¿Medvedev e Aso declararam que é preciso reagir com firmeza às ações norte-coreanas, que constituem um desafio ao sistema de segurança internacional¿, afirma nota do Kremlin. A decisão de punir ou não Pyongyang cabe à China, importante aliada do país comunista.

ALIANÇA EM CINGAPURA Ao fim da Conferência Asiática de Segurança, em Cingapura, os ministros da Defesa Robert Gates (EUA), Lee Sang-hee (Coreia do Sul) e o japonês Yasukazu Hamada firmaram uma frente comum pela desnuclearização da Península Coreana.

--------------------------------------------------------------------------------

Forças em alerta Os EUA mantêm 28.500 soldados estacionados na Coreia do Sul, frutos de um acordo assinado depois do fim da Guerra das Coreias, em 1953.

Poderio aéreo O Pentágono enviou 12 caças F-22 Raptores do Estado norte-americano da Virgínia para o Japão, a fim de garantir a segurança do Pacífico Ocidental.