Título: Governo do emirado de Dubai diz não ser responsável por dívida de estatal
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Fonte: O Globo, 01/12/2009, Economia, p. 24

Bolsa local desaba 7,3%, enquanto a do vizinho Abu Dhabi despenca 8,3% .

O governo de Dubai afirmou ontem não vai garantir a dívida da Dubai World, no total de US$ 59 bilhões, e que, a curto prazo, os credores serão afetados pela reestruturação do conglomerado estatal. Os mercados dos Emirados Árabes Unidos (EAU) voltaram a funcionar ontem depois de um feriado religioso, despencando mais de 7% como reflexo do pedido pela Dubai World, na quarta-feira, por mais prazo para pagar seus credores.

¿ A Dubai World foi criada como uma empresa independente.

É verdade que ela pertence ao governo, mas como a empresa tem várias atividades e está exposta a diversos tipos de risco, a decisão, desde sua criação, foi a de que a companhia não está garantida pelo governo ¿ afirmou à TV Dubai o diretor-geral do Departamento de Finanças do emirado, Abdulrahman al-Saleh. ¿ Os credores terão de assumir parte da responsabilidade.

Ele acrescentou que a reação do mercado à revelação dos problemas de dívida da Dubai World foi exagerada e não condiz com a realidade.

A Bolsa de Dubai desabou 7,3%, a maior queda desde outubro de 2008, enquanto a de Abu Dhabi ¿ emirado vizinho ¿ despencou 8,3%, o maior tombo desde 2001, segundo a Bloomberg News. As ações da DP World, unidade operadora de portos da Dubai World, desabaram 15% no pregão de Dubai ¿ o máximo permitido pela Bolsa do emirado. Já os papéis do Banco Nacional de Abu Dhabi caíram 9,7%, depois de ele divulgar uma exposição de US$ 345 milhões a duas subsidiárias da Dubai World.

Meirelles: pode haver redução no fluxo de capitais Os mercados europeus também recuaram ontem como reflexo das perdas de Dubai. Londres e Frankfurt tiveram queda de 1,05%, enquanto Paris recuou 1,11%. Rudolf Buxtorf, do banco suíço RBS Coutts, disse à Bloomberg News que Dubai lembrou aos investidores que ¿algumas coisas não foram ajustadas¿.

O anúncio feito domingo pelo Banco Central dos EAU, prometendo uma linha de crédito emergencial para os bancos da região, a fim de garantir sua liquidez, não bastou para acalmar os investidores europeus.

Vários bancos da Europa, principalmente britânicos, têm forte exposição à dívida do emirado de Dubai, de US$ 80 bilhões.

¿ Eu acho que os bancos não estão em uma posição em que necessitem de mais liquidez extra do Banco Central ¿ afirmou al-Saleh.

Já o presidente do BC brasileiro, Henrique Meirelles, elogiou ontem a criação de uma linha de crédito emergencial pelos Emirados. Ele disse que isso deve limitar os estragos da nova crise financeira, mas reafirmou que o episódio serve de alerta e que o Brasil poderá ser afetado por uma eventual redução no fluxo de capitais estrangeiros.

¿ Interromper, não. O fluxo (de capitais) para o Brasil tem componentes sólidos que são a estabilidade e o crescimento.

Agora, pode corrigir algum excesso de euforia ¿ afirmou Meirelles em São Paulo.

Para Meirelles, o alerta de que novas perdas existentes no mercado ¿ainda virão¿ deveria levar os bancos no mundo a adequarem seus investimentos a seu fluxo de capital. Ele admitiu que estuda formalizar a exigência para que bancos comerciais elevem os níveis de capital nos períodos de crescimento econômico, com o objetivo de manter um colchão de liquidez.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), por sua vez, disse ter recebido bem a decisão do BC dos Emirados de oferecer ajuda emergencial aos bancos, acrescentando que continuará monitorando a situação. O FMI ressaltou ainda que os EAU ¿são uma economia forte¿. (Aguinaldo Novo, com Bloomberg News e agências internacionais