Título: Ameaçado, DEM dá prazo para Arruda se defender
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 02/12/2009, O País, p. 8

Partido evita demissão sumária e dá até o dia 10 para que governador explique denúncias de corrupção

BRASÍLIA. O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), acusado de comandar um esquema de corrupção em seu governo, terá oito dias para apresentar sua defesa à executiva do partido, que planeja julgá-lo de forma definitiva no dia 10. Essa foi a fórmula encontrada pela cúpula do DEM ¿ e contestada por parlamentares que desejavam a expulsão imediata ¿ para aplacar a ira de Arruda, que chegou a fazer ameaças veladas, prometendo revidar caso fosse sacrificado. Até lá, negociadores políticos estarão em campo para evitar estrago maior no DEM, como o temido efeito dominó que poderia afetar outros integrantes do partido.

Para evitar uma exposição ainda maior do racha interno, o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), decidiu avocar para si a decisão sobre o destino do governador e seu amigo pessoal. Por sugestão do deputado Onyx Lorenzoni (RS), Maia aceitou uma posição intermediária entre a proposta de expulsão sumária e o processo disciplinar regular, que poderia durar até 60 dias.

¿Faltou coragem ao partido¿, reage Demóstenes A estratégia, porém, foi contestada duramente pelo senador Demóstenes Torres (DEMGO), que apresentou, durante a tensa reunião da executiva nacional, uma petição propondo a expulsão sumária. A petição foi assinada em conjunto pelos líderes do partido na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), e no Senado, José Agripino (RN), mas sequer foi votada.

¿ Faltou coragem ao partido! ¿ desabafou Demóstenes na saída, informando que a fórmula adotada por Maia não está prevista no estatuto do partido e abre uma brecha para que Arruda conteste na Justiça qualquer punição que lhe seja imposta pelo DEM.

Na sua opinião, o presidente do partido não tinha poderes para avocar para si a decisão sobre o destino de Arruda.

Maia garantiu, porém, que sua decisão foi respaldada pelos advogados do partido e afirmou que haverá uma solução rápida, pois reconhece o desgaste para o DEM: ¿ O melhor seria uma proposta que garantisse ao mesmo tempo um processo disciplinar sumário e o direito de defesa do governador ¿ disse Maia: ¿ O episódio já provocou um desgaste grande no partido. Não adianta negar isso.

As denúncias são muito graves. As imagens, chocantes.

Estamos todos muitos preocupados. Mas não nos faltou coragem. É uma atitude que nenhum outro partido que enfrentou problema semelhante teve coragem de ter.

A estratégia de Maia, porém, começou a ruir ontem mesmo. O relator indicado por ele para conduzir o processo, deputado José Carlos Machado (DEM-SE), recusou a missão menos de uma hora depois de ser designado.

¿ Fui pego de surpresa.

Não sei nada sobre esse processo ¿ admitiu Machado, antes de desistir da tarefa.

Numa reunião marcada pela tensão e constrangimentos, os deputados Alberto Fraga e Osório Adriano, ambos do DF, causaram uma onda de protestos ao propor uma ampliação do prazo de defesa para Arruda.

¿ Não estou satisfeito. O partido perdeu um grande momento de tomar uma decisão correta, num momento adequado ¿ lamentou Agripino.