Título: Congresso dividido vota sorte de Zelaya
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 02/12/2009, O Mundo, p. 33

Presidente deposto quer anular pleito e simpatizantes convocam manifestação

TEGUCIGALPA. O Congresso Nacional de Honduras decide hoje se permite ou não ao presidente deposto, Manuel Zelaya, concluir seu mandato até 27 de janeiro, quando assume o presidente eleito no domingo, Porfirio Lobo. A menos de 24 horas da votação, no entanto, Zelaya reforçou o impasse político, anunciando que não aceitará ser reconduzido ao cargo sob condições impostas pelo presidente interino, Roberto Micheletti. E mais: avisou que, se voltar ao comando da Casa Presidencial, entrará com uma ação na Justiça para anular a eleição e exigirá punição ao grupo envolvido no golpe que o derrubou.

¿ O presidente Zelaya não aceitará um processo sob condições.

Não vamos aceitar qualquer tipo de diálogo com o governo de fato ¿ disse o assessor do governo deposto, Carlos Eduardo Reina, que após 72 dias deixou ontem a sede da Embaixada do Brasil, convocando manifestações em frente ao Congresso, hoje.

O governo interino teria proposto a Zelaya a sua recondução ao cargo desde que não houvesse movimento seu para anular a eleição. Em troca, o presidente deposto seria anistiado dos crimes de que é acusado e que terá de responder na Suprema Corte. Zelaya não aceita: ¿ Esse governo sabe que seguirá com um golpe se não reconstituir o presidente Zelaya nos preceitos constitucionais.

Do contrário, apenas reforçará o repúdio da comunidade internacional e sanções que prejudicarão o nosso povo ¿ disse Reina.

¿ O presidente Zelaya não tem faculdade para anular a eleição, mas pode entrar com uma ação na Justiça nesse sentido.

Em conversas reservadas, Pepe Lobo já teria sentado com a bancada do Partido Nacional para votar pela reconstituição, mas sob condições. A legenda tem 55 deputados. Lobo estaria disposto a negociar com o Partido Liberal, de Zelaya, também dividido quanto à restituição.

Dos 62 deputados, só 14 devem votar a favor do deposto.

¿ Zelaya vai ter de responder por seus crimes e não interferir num processo eleitoral limpo ¿ disse ao GLOBO o deputado Luiz Acosta.

O presidente deposto reforçou que não pretende deixar a Embaixada do Brasil, muito menos pedir asilo político na América Central