Título: Debandada geral da embaixada
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 03/12/2009, O Mundo, p. 37

Das mais de 300 pessoas no grupo inicial em torno de Zelaya sobram apenas 21

TEGUCIGALPA. O arrastado processo político em Honduras fez com que a corrente militante em torno do presidente deposto Manuel Zelaya perdesse elos dia após dia, nestes últimos cinco meses. Dos 313 militantes ligados a partidos de oposição que ocuparam a Embaixada do Brasil em 21 de setembro, quando Zelaya voltou ao país para lutar contra o golpe que o tirou do poder, apenas 21 pessoas o acompanham hoje entre os colchões infláveis espalhados pelos cômodos da representação diplomática, cercada há quase dois meses e meio por soldados das Forças Armadas.

Se do lado de fora a força oposicionista também parece desgastada em meio ao cenário militarizado de Tegucigalpa, a rotina na embaixada nem de longe lembra os explosivos dias de pós-golpe, quando militantes pularam para dentro dos muros da embaixada para fugir das bombas de gás lacrimogêneo lançadas pelos militares.

A primeira grande debandada dos chamados zelayistas que acompanhavam o presidente deposto aconteceu logo na primeira semana, mas outros grupos jogaram a toalha pouco a pouco, principalmente depois que Zelaya recusou o chamado acordo de São José-Tegucigalpa, que firmaria um governo de unidade entre o governo interino e o deposto. A partir dali, já baixava para 70 o número de aliados de fé, que aos poucos também começaram a deixar o prédio, muitos cansados, alguns doentes. Tinham, diante da resistência de Zelaya, a certeza de que o desfecho para o impasse estava longe do fim.

Hoje, Zelaya permanece de mãos dadas com sua mulher, Xiomara Castro, além de seguranças, um assessor e dois jornalistas.

Um deles, americano, garante que está ali em greve de fome até hoje.

Na terça-feira, Carlos Eduardo Reina, o principal assessor do governo deposto, também deixou o prédio. Ao contrário dos demais, no entanto, saiu com uma missão estratégica, a pedido do próprio Zelaya. Foi para a rua e, numa última cartada, disse que Zelaya estava disposto a deixar a embaixada se fosse para assumir a Casa Presidencial de forma incondicional.

Diante do impasse, ele mesmo alimentou a tese de que o teto da embaixada ainda deve permanecer sobre os refugiados por muito tempo. O próprio Zelaya disse dias atrás que permaneceria na embaixada enquanto o Brasil permitisse.

O chefe da embaixada, Francisco Catunda, se reveza com um funcionário a cada 24 horas. Em meio à falta de um acordo, e diante das últimas declarações do presidente deposto, a embaixada brasileira em Honduras tem tudo para permanecer como símbolo de discórdia ¿ para os que defendem o golpe ¿ ou de abrigo político que perde seus hóspedes no decorrer da história. (F.F.)