Título: Protestos tomam Câmara, e deputados somem
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 04/12/2009, O País, p. 10

Parlamentares ligados ao governador, que são maioria, faltam ao trabalho; prédio está ocupado por manifestantes

BRASÍLIA. Sem a presença de deputados da base governista, a oposição ao governo José Roberto Arruda não conseguiu quórum ontem sequer para abrir a sessão na Câmara Legislativa do Distrito Federal. O presidente em exercício, Cabo Patrício (PT), convocou sessão para a próxima terça-feira. Ele disse que a maioria dos parlamentares alegou falta de segurança para ir ao prédio, onde cerca de 70 manifestantes favoráveis ao impeachment de Arruda ocupam o plenário desde quarta-feira, e ameaçam ficar, pelo menos, até segunda-feira.

Parlamentares não conseguem eleger corregedor

Sem sessão, a Câmara Legislativa acabou não elegendo o novo corregedor da Casa, responsável por pedir ou não a cassação de oito deputados distritais e dois suplentes citados no inquérito do mensalão do DEM. O sétimo pedido de impeachment contra o governador, protocolado ontem pelo PSB, também não pôde ser lido em plenário. Tampouco foi criada a CPI para investigar o governo do DF, cuja instalação havia sido combinada na última terça-feira por 22 dos 24 deputados distritais.

Cabo Patrício demonstrou contrariedade com a ocupação do plenário e ameaçou entrar com ação de reintegração de posse no Tribunal de Justiça do DF. Os manifestantes ¿ a maioria alunos da Universidade de Brasília (UnB) ¿ aceitaram, então, desocupar o plenário para que a sessão fosse realizada. O grupo saiu do local, mas não houve sessão, pois apenas cinco parlamentares compareceram. O quórum mínimo é de seis.

¿ Muitos parlamentares disseram que não virão à Câmara enquanto não tiverem condições de trabalhar. Não conseguimos reunir hoje nem a Mesa Diretora ¿ disse Cabo Patrício, informando que, além dele, o único deputado a comparecer à reunião da Mesa Diretora foi Milton Barbosa (PSDB), irmão do ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa, autor das denúncias contra Arruda.

Os manifestantes e demais deputados presentes criticaram a ausência dos colegas.

Em seguida, os estudantes reocuparam o plenário, anunciando que pretendem permanecer no mínimo até segundafeira.

¿ É injustificável que os deputados utilizem uma manifestação popular, na Casa que é do povo, para não comparecer e postergar o trabalho de investigação ¿ disse a líder do PT, Érika Kokay.

Do lado de fora, o protesto dos estudantes ganhou uma trilha sonora: o hit executado no alto-falante de um carro era o funk ¿Caixa de Pandora¿, de autoria da autônoma desempregada Ana Paula Nascimento, que vendia CDs a R$ 5 com a música. ¿Chega de tanta mentira, de tanta enganação, o povo já não aguenta falso político ladrão¿, diz a letra.

O discurso jurídico é diferente do político. Um advogado com sensatez jamais dirá que há prova irrefutável

José Gerardo Grossi, defensor de Arruda