Título: Emissões vão dobrar
Autor:
Fonte: O Globo, 04/12/2009, Ciência, p. 43

Metas propostas por países são insuficientes para reduzir aquecimento global

Mesmo que as promessas de corte nas emissões globais de gases-estufa sejam cumpridas, ainda assim serão insuficientes. As emissões vão quase dobrar até 2040, em comparação aos níveis de 1990, com base nas atuais metas anunciadas pelos países. É o que aponta estudo da consultoria climática Ecofys.

Em Berlim, às vésperas da 15aConferência das Partes da Convenção de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP-15), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a reunião não resultará num ¿acordo dos sonhos¿ dele ou de qualquer outro líder mundial por conta de uma maior necessidade de aprofundamento nas discussões sobre a diminuição de emissões.

O cálculo da Ecofys considera os compromissos assumidos pelos governos antes da reunião, de 7 a 18 deste mês. A análise diz que o mundo caminha para um aquecimento médio bem acima de 3 graus Celsius até 2100. E as ofertas sobre a mesa não devem interromper o aumento antes de 2040, quanto menos 2015, conforme indica o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU.

¿ Estão longe de reduzir à metade as emissões até 2050, conforme proposta do G8 (bloco de países industrializados) ¿ disse Niklas Hohne, diretor da Ecofys.

O economista Nicholas Stern, especialista em aquecimento global, está pessimista. Em reunião em Bruxelas, ele declarou que, para manter o aquecimento em menos de 2 graus, as emissões globais deveriam ficar em 44 bilhões de toneladas por ano até 2020. Seu mais recente relatório diz que as emissões estão em 47 bilhões de toneladas de gases-estufa por ano, e podem chegar a 58 bilhões em 2020.

Lula ¿ em visita oficial à Alemanha ¿ disse que o poder de negociação dos líderes mundiais estará limitado pelas vicissitudes da política interna de seus países, mas acredita que a COP-15 ao menos resultará em avanços.

¿ Tenho otimismo acima da média.

Não teremos o acordo dos meus sonhos, mas acertos importantes.

Cada presidente apresentará propostas conforme sua política externa e acima de sua vontade pessoal. Tenho certeza de que, por exemplo, o Obama teria sido bem arrojado nas metas apresentadas pelos EUA se o tivesse feito de vontade própria ¿ afirmou o presidente em entrevista coletiva.

Uma pesquisa divulgada ontem revelou que nove entre dez brasileiros se preocupam com as mudanças climáticas e adotariam hábitos para proteger o clima. O estudo do Pew Research Center ouviu 26 mil pessoas, em 25 países (800 no Brasil).

Dois terços ou mais da população de Argentina (69%), França (68%), Coreia do Sul (68%), Índia (67%), Turquia (65%), Japão (65%) e México (65%) dizem que o aquecimento global é um ¿problema muito sério¿.

(Colaborou Fernando Duarte)