Título: E tudo começou com dois imigrantes...
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 05/12/2009, Economia, p. 38

Casas Bahia e Pão de Açúcar nasceram como o sonho de um polonês e um português no Brasil do pós-guerra

SÃO PAULO. Gigantes do varejo brasileiro, os grupos Pão de Açúcar e Casas Bahia tiveram origem semelhantes: surgiram como pequenos negócios no pós-guerra, criados por imigrantes europeus. Quando o polonês Samuel Klein fugiu dos horrores da Segunda Guerra e chegou ao Brasil para vender roupas e utensílios domésticos em uma charrete no ABC paulista, em 1952, não imaginava estar dando os primeiros passos para criar um dos maiores impérios do varejo no país. Valentim dos Santos Diniz, que em 1948 fundou a pequena doceria Pão de Açúcar, em São Paulo, também não sabia estar iniciando um negócio bilionário.

Imigrante polonês, Samuel Klein, hoje com 86 anos, passou por um campo de concentração na Alemanha e imigrou para a Bolívia. Não gostou de lá e veio para o Brasil em 1952 com a mulher, Ana, e o primeiro filho ¿ Michael, hoje diretor-executivo da rede. No começo, vendia de porta em porta, anotando num papel o débito dos clientes. Em 1957, veio o primeiro salto: ele investiu seus lucros em uma loja em São Caetano. Hoje, são mais de 500 em 11 estados e faturamento superior a R$13 bilhões anuais.

Homenagem a quem vinha do Nordeste para SP

O nome Casas Bahia foi uma homenagem aos migrantes nordestinos que, como ele, foram para São Paulo em busca de trabalho e uma vida melhor. O negócio cresceu, com várias lojas nas cidades do ABC. Da charrete passou-se a uma frota de 80 vans que levavam as mercadorias até os clientes.

A chegada à capital paulista marcou uma nova estratégia: Klein passou a adquirir concorrentes, não só em São Paulo, mas no Rio, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina. O crescimento acelerado puxou outros membros da família. Os filhos Michael e Saul começaram a trabalhar na empresa em meados de 1980. Michael liderou uma nova expansão da rede nos anos 2000, enquanto Saul ficou responsável pela negociação com os fornecedores. Este ano, após um desentendimento com Michael sobre os novos passos do grupo, Saul vendeu sua participação e deixou a empresa.

Parada no Rio batizou loja do imigrante português

A história da doceria Pão de Açúcar, aberta em 1948 pelo português Valentim dos Santos Diniz ¿ conhecido como ¿seu¿ Santos ¿ não é muito diferente. A viagem ao Brasil, de navio, teve uma parada no Rio. E uma imagem forte que ele gravou na memória foi a do Pão de Açúcar, que batizou o pequeno estabelecimento na Avenida Brigadeiro Luis Antônio, em São Paulo. O aumento da clientela levou-o a abrir duas filiais, quatro anos depois, e dar início à maior rede varejista do país, de R$21 bilhões em vendas.

Em 1959, antevendo uma mudança no comportamento dos consumidores, ele inaugura o primeiro supermercado, com um novo jeito de fazer compras: o autosserviço. Nos anos 70, o imigrante português realizou um sonho: a primeira loja fora do Brasil, justamente em Lisboa. Em 1997, desentendimentos familiares levaram o primogênito Abílio Diniz a assumir a reestruturação da empresa. ¿Seu¿ Santos deixou a presidência para Abílio, mas ficou no Conselho da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD) até a sua morte, em março de 2008, aos 94 anos.