Título: Marco zero
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Fonte: O Globo, 06/12/2009, Opinião, p. 6
A COP-15, a conferência de Copenhague, começa amanhã em condições muito diferentes das de um ou dois meses atrás, quando parecia um fracasso já contratado.
Nesse curto período, muita coisa improvável aconteceu. Os EUA adotaram a meta de corte das emissões de 17% até 2020 sobre os níveis de 2005 ¿ e de 83% até 2050. A China, que vinha resistindo a adotar qualquer alvo, comprometeuse a reduzir de 40% a 45% até 2020, sobre os níveis de 2005, a quantidade de dióxido de carbono emitida por unidade de PIB. Até a recalcitrante Índia mudou de tom e levará à conferência a promessa de reduzir em 25% as emissões de gases-estufa até 2020. A União Européia já tinha se comprometido com metas de corte de poluentes, e o Brasil anunciou o compromisso voluntário de reduzir a produção de gases-estufa entre 36,1% e 38,9% até 2020, a partir de uma projeção de quanto o país emite hoje.
Dito isso, é bom lembrar que não faltam problemas pela frente. Cada país adota uma fórmula diferente para calcular metas. E, mesmo na remota hipótese de todas serem cumpridas, serão insuficientes, segundo estudo da consultoria Ecofys, para quem as emissões vão quase dobrar até 2040, em relação aos níveis de 1990.
É possível e preocupante. No entanto, o encontro de Copenhague não pode ser visto como o fim da linha, mas como o marco zero. Mesmo com todas as dificuldades e as limitações das propostas, está criado o consenso de que é preciso deter o aquecimento global e lutar contra as mudanças climáticas. Cabe a todos os participantes trabalhar a fundo para que a COP-15 estabeleça a agenda para os próximos anos. É muito importante que as nações desenvolvidas assegurem financiamentos a fim de que os países pobres possam tomar as medidas necessárias para adequar suas economias às novas exigências antipoluição.
É preciso também desenvolver mecanismos de monitoramento confiáveis para assegurar que os compromissos sejam cumpridos.
Há muito trabalho pela frente, mas pode-se dizer que a conferência começa com uma vitória: a da sociedade e suas instituições que, num mundo globalizado, usaram o poder de pressão para obrigar os líderes mundiais a assumir suas responsabilidades diante das próximas gerações.
Pressão da sociedade garante esperança sobre o clima