Título: 3º mandato divide PT e PMDB
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 29/05/2009, Política, p. 7

Após sofrerem pressões das cúpulas partidárias, tucanos e democratas retiram assinaturas e PEC que permite nova reeleição não emplaca. Iniciativa de peemedebista, no entanto, abre crise com os petistas

Jackson Barreto (C) protocolou ontem na Mesa Diretora a proposta que prevê o terceiro mandato Apesar de fracassada a tentativa do deputado Jackson Barreto (PDMB-SE) de apresentar ontem a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que permitiria aos chefes do Executivo duas reeleições consecutivas, a matéria acirrou os desentendimentos entre os aliados do Palácio de Planalto. Costurada nos bastidores do PMDB, ela recebeu críticas de todos os lados, inclusive de governistas. Os integrantes do PT acreditam que a proposta foi uma afronta aos planos do partido de fortalecer a candidatura da ministra Dilma Rousseff e pode desgastar a imagem do governo.

Mas as motivações, segundo admitem peemedebistas simpáticos à ideia, são menos audaciosas. O que pretendem alguns dos integrantes da maior legenda do país é simplesmente forçar o governo a pensar em um plano B para a eleição do próximo ano, caso a saúde de Dilma Rousseff ¿ que tem se submetido a sessões de quimioterapia para combater um câncer linfático ¿ não permita que ela encare uma campanha eleitoral. O PMDB não pretende arriscar enfrentar uma aliança com riscos de derrota. A ele interessa permanecer com a cúpula do atual governo, que o fez uma poderosa legenda e distribuiu cargos de forma generosa. ¿Tem muita gente que apoia a minha proposta. Acho que isso é uma homenagem ao governo Lula. Temos que ter alternativas e dar às pessoas possibilidades de escolher e opinar se querem continuar como está¿, argumenta Barreto.

Apesar de, internamente, a maioria dos peemedebistas apoiar a proposta de terceiro mandato ¿ e ter, inclusive, discutido o assunto em um jantar na semana passada na casa do líder da legenda, Henrique Eduardo Alves (RN) ¿, o discurso público tem sido diferente. Alves disse ontem que, se Lula for contrário à matéria, não há o que ser feito para avançar na ideia. O líder, a propósito, incentivou Jackson Barreto a apresentar a proposta. Até o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), que já confessou a aliados que se preocupa com a falta de um plano alternativo do PT à candidatura da ministra Dilma, disse que não aceleraria a tramitação da matéria.

O discurso dos dois peemedebistas é uma tentativa de, pelo menos publicamente, se afinar com o governo. Integrantes do PT criticaram a apresentação da proposta, alegando que a discussão sobre um novo mandato para o presidente Lula enfraquece a candidatura da ministra Dilma. O líder da legenda, Cândido Vacarezza (SP), disse não entender os motivos da insistência na ideia, uma vez que até o presidente Lula já se declarou contrário à possibilidade de permanecer no comando do país. Em resposta, Barreto dá o tom do clima tenso vivido entre integrantes das duas legendas: ¿Acho que os petistas estão com pouca confiança na nossa disposição de formalizar essa aliança. Essa desconfiança de que a ideia do meu projeto tem outros interesses reflete uma falta de afinação que não deveria existir¿, disse.