Título: Pinochetismo em queda
Autor: Azevedo, Cristina
Fonte: O Globo, 10/12/2009, O Mundo, p. 38

Neto do ex-ditador não conseguiu legenda

SANTIAGO. Sem encontrar uma legenda da direita que apoiasse sua candidatura a deputado, Rodrigo García Pinochet acabou lançando-se como independente. E, embora tenha coletado 2.500 assinaturas, mais do que o dobro necessário para disputar a vaga de deputado pelo distrito 23 (que inclui o elegante bairro de Las Condes, onde o avô morou), Rodrigo não tem a eleição assegurada, num dos reflexos de um cenário político em que a direita procura descolar sua imagem da do ditador que governou o país com mão de ferro.

¿ Minha candidatura não surgiu de um partido político, mas da cidadania. Propus eleições primárias para a escolha do candidato, mas não aceitaram. Não é correto a cúpula determinar quem vai concorrer ¿ disse ao GLOBO.

Rodrigo tenta fazer o mesmo caminho da mãe, Lucía, eleita no ano passado vereadora. Não renega o nome da família, pelo contrário: estampa a foto ao lado do avô em pôsteres e lembra um atentado que viveu junto ao general. Mas se diz de uma nova geração, mais propensa ao diálogo.

¿ Prevalece um eixo histórico na política que há muitos anos é polarizada. Algo que agora vem perdendo força. A minha geração não viveu o governo militar. Somos mais tolerantes e abertos a conversas ¿ afirma.

O pinochetismo, hoje, não tem um rosto, embora uma parcela considerável dos chilenos ainda apoie o regime que governou o país de 1973 a 1990. Se as acusações de violações de direitos humanos não enfraqueceram esse apoio, o mesmo não aconteceu com as denúncias de fraude fiscal e lavagem de dinheiro, dizem analistas. Para Carlos Huneus, diretor-executivo do Centro de Estudos da Realidade Contemporânea, há muito tempo a imagem de Pinochet está danificada.

Rodrigo rebate as acusações de que o ex-ditador tivesse dinheiro escondido no exterior ou de que a morte do ex-presidente Eduardo Frei Montalva esteja relacionada ao antigo regime.

¿ As acusações de lavagem de dinheiro são instrumentos políticos, que vêm e vão, mas desaparecem da mídia por falta de sustentação ¿ afirmou. ¿ O debate de 2009 deve se centrar em temas atuais, e não sobre o que foi o governo de meu avô. (Cristina Azevedo)