Título: Preconceito
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Fonte: O Globo, 10/12/2009, Opinião, p. 6

A Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) é um órgão com múltiplas funções. Além de ter sob sua supervisão direta institutos de pesquisas relacionados ao uso da energia nuclear em diversos campos (geração de eletricidade, medicina, conservação de alimentos), a Cnen também é responsável pelo comissionamento de instalações, pela normatização do setor e pela fiscalização do cumprimento dessas normas. E como o uso da energia nuclear está condicionado a salvaguardas estabelecidas por acordos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, cabe à Cnen interagir com entidades que mantêm rigoroso acompanhamento de tais regras.

Não há, assim, órgão mais gabaritado no país a opinar sobre o uso adequado de instalações nucleares no Brasil. Dessa forma, a conclusão da usina de Angra 3 ocorre, em todas as suas etapas, sob a lupa da Cnen. E isso não é de hoje, pois a usina decorre de um acordo assinado pelo Brasil com a Alemanha, há décadas, e para a qual já foi adquirida a maior parte dos equipamentos importados.

A obra ficou interrompida durante muitos anos, depois de ter sido escavada a rocha em que ficará a usina. Um dos argumentos a favor da retomada de Angra 3 é exatamente o de que a usina já se encontra em ambiente licenciado, e vai operar com tecnologia testada e absolutamente dominada.

A reativação do programa nuclear também se deve ao reconhecimento desse tipo de usina como fonte de energia limpa, sem o impacto ambiental negativo de termelétricas a carvão, a óleo ou mesmo a gás natural. Neste momento em que o mundo discute mudanças climáticas e a necessidade de se reduzir emissões de gases capazes de provocar um efeito estufa, Angra 3 é mais do que bem-vinda.

Em face de antigas resistências e oposição à energia nuclear, todas as precauções e cumprimentos de exigências foram adotados antes de se retomar a obra da usina.

Mas parece não haver limite para procuradores do Ministério Público que sempre repetem o mesmo discurso para interromper a obra judicialmente, sem considerar o imenso prejuízo dessa iniciativa.

Causa perplexidade que o Ministério Público não leve em conta primordialmente a opinião da Cnen nesse processo. E nada, até aqui, tem sido feito em Angra 3 sem autorização prévia da Cnen.

A atitude do MP só encontra explicação em algum preconceito rançoso, possivelmente de caráter ideológico.