Título: Foi um verdadeiro tsunami
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 29/05/2009, Brasil, p. 12

Barragem no Piauí rompe e inunda dois municípios. Foram confirmadas pelo menos quatro mortes e há cerca de 1,6 mil famílias desabrigadas. Bombeiros não sabem precisar número de desaparecidos

O rompimento da barragem de Algodões 1, localizada no município de Cocal da Estação (PI), a cerca de 268km de Teresina, deixou pelo menos 1,6 mil famílias desabrigadas, sendo 1,2 mil em Buriti dos Lopes (PI) e 400 em Cocal. A tragédia teria sido provocada por conta de chuvas intensas que caíram na região e no Ceará, estado onde está localizada a nascente do Pirangi, rio represado na cidade piauiense. Até o fechamento desta edição, quatro mortes haviam sido confirmadas, com a localização dos corpos de Francisca Maria Pereira, 12 anos, e de mais três pessoas ainda não identificadas, sendo dois jovens e um idoso. Apesar de fontes não oficiais informarem que são 11 desaparecidos, o Corpo de Bombeiros não soube precisar o número correto.

A força das águas foi devastadora. Cerca de 500 casas foram arrastadas, fazendo com que famílias perdessem tudo o que tinham. Depois de sobrevoar a área da tragédia, o governador do estado, Wellington Dias (PT), definiu o que ocorreu como ¿um verdadeiro tsunami¿. Após visitar a região atingida, o titular do executivo estadual se licenciou do cargo para se submeter a uma pequena cirurgia na boca. Em entrevista ao Correio, o vice-governador, Wilson Martins (PSB), disse que o estado criou um comitê técnico para coordenar as ações de busca e ajuda e que já autorizou a abertura de inquérito para investigar as causas do acidente. ¿É lamentável o que ocorreu, mas vamos trabalhar com a hipótese de causa natural (chuvas) como fator importante.¿

O alerta sobre o rompimento da barragem, que inundou uma área de 50km², foi emitido às 10h de quarta-feira. ¿Às 14h, já estavam sendo veiculadas chamadas nas rádios locais e em carros de som sobre o risco de acidente¿, disse Martins. A tragédia levou aproximadamente 10 mil moradores da região a saírem às pressas de suas casas. O rombo na parede de Algodão 1 é de pelo menos 50 metros, segundo o governo do Piauí. Além das chuvas, o rompimento teria sido provocado por uma erosão na parte inferior da barragem.

Os moradores de Cocal contam que depois de ouvirem o estrondo causado pelo rompimento, a população correu desesperada para se abrigar. Para enfrentar as águas que se aproximavam, muitos tentaram se segurar em árvores, postes e casas para não serem arrastadas, o que foi inútil, pois a correnteza levou tudo o que encontrou pela frente. A água, segundo relatos, teria atingido pelo menos 10m de altura.

Sem saber precisar o número total de desabrigados por conta das fortes chuvas que atingem o Piauí e outros estados do Norte e do Nordeste, Wilson Martins garantiu que a prioridade do governo é garantir alimentação, remédios e moradia às vítimas. ¿Além dos R$ 90 milhões autorizados pelo governo federal ao Piauí, o governo estadual tem disponibilizado recursos próprios para a compra de cestas básicas, lençóis e travesseiros.¿ Segundo Martins, as redes elétrica, telefônica e de água e esgoto de Cocal e Buriti já estão sendo reconstruídas.

Retirada O risco de tragédia foi verificado por técnicos contratados pelo estado, o que levou à retirada dos moradores do local. No entanto, na semana passada, a população foi autorizada a voltar para suas casas. Diretora-presidente da Empresa de Gestão de Recursos do Piauí (Emgerpi), Lucile Moura observou que desde o início do ano, quando começaram as chuvas no estado, o governo local vinha acompanhando de perto a barragem. ¿Há 15 dias, com o aumento do índice pluviométrico, que provocou a elevação de 1,30m na lâmina do reservatório, e após verificar rachaduras na barragem, emitimos um alerta de risco de rompimento de Algodões 1¿, disse.

De acordo com ela, após uma equipe de engenheiros confirmar os riscos de sustentação e retenção da obra, o governo providenciou a remoção de aproximadamente 800 famílias dos dois municípios para abrigos. ¿Diante da redução das chuvas e depois de verificar as condições da barragem, a equipe de engenheiros se reuniu com representantes do governo na quinta-feira da semana passada. Em seguida, foi autorizado o retorno de todos os moradores às suas casas¿, admitiu a diretora da Emgerpi.

Questionada sobre a possibilidade de negligência das autoridades responsáveis, Lucile Moura garantiu que todas as decisões foram subsidiadas por laudos técnicos dos engenheiros. ¿O problema é que não contávamos com a chuva que caiu com grande intensidade na região e no Ceará, estado onde fica a nascente do Rio Pirangi¿, lamentou a diretora da Emgerpi, lembrando que o índice pluviométrico chegou a 108mm na segunda-feira. ¿Essas chuvas, que ainda não haviam caído com tanta intensidade, fizeram o reservatório subir 8cm, o que provocou uma sangria de pelo menos 1km ao redor da barragem.¿