Título: Lula fala merda
Autor: Lins, Letícia; Garrone, Raimundo
Fonte: O Globo, 11/12/2009, O País, p. 13

Ao assinar contratos para obras de saneamento, presidente diz que não se importa com críticas por ter dito palavrão

LULA, DILMA e Roseana: discurso com palavrão e críticas ao seu antecessor por não investir em saneamento

SÃO LUÍS. Ao discursar para cerca de duas mil pessoas no Centro de Convenções da capital maranhense, o presidente Lula disse que o seu governo investe mais em saneamento do que as gestões anteriores porque ele quer "tirar o povo da merda".

- Quero saber se o povo está na merda, e eu quero tirar o povo da merda em que se encontra. Esse é o dado concreto - afirmou o presidente, para quem obras em saneamento básico foram relegadas pelos seus antecessores porque não rendem votos, já que são iniciativas que acabam esquecidas porque as tubulações ficam sob a terra.

Em seguida, ele admitiu que o vocabulário não era apropriado:

- É lógico que eu falei um palavrão aqui. Amanhã os comentaristas dos grandes jornais vão dizer que o Lula falou um palavrão, mas eu tenho consciência de que eles falam mais palavrão do que eu todos os dias. E tenho consciência de como é que vive o povo pobre deste país - acrescentou o presidente, que foi aplaudido quando disse o palavrão.

No evento, Lula, ao lado da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, ele assinou contratos para a construção de casas populares e obras de saneamento.

- Tem muita gente que fala que é enterrar dinheiro. Por que é saneamento básico? Cavar um buraco, colocar umas manilhas, pegar os dejetos humanos que fazemos, canalizar para um lugar, tratar e devolver parte deles, bem tratados, para não poluir os rios e o mar. Mas isso custa caro e isso ninguém vê. Não dá para ninguém colocar o nome da mãe, do pai, do avô, em uma manilha embaixo da terra, porque ninguém vê. Então, as pessoas preferiam fazer uma ponte, mesmo que não soubessem para onde vai nem para onde vem - afirmou Lula

O presidente disse que este ano e em 2010, só no Maranhão, o governo federal está investindo cerca de R$1 bilhão em saneamento, cifra que, segundo ele, seu antecessor (Fernando Henrique Cardoso) não investiu em todo o país.

- Então, temos consciência de que estamos fazendo no Brasil o maior investimento da história deste país em saneamento básico, em todas as cidades brasileiras. Não quero saber se o João Castelo (o prefeito de São Luís) é do PSDB, não quero saber se o outro é do PFL, não quero saber se é do PT. Quero saber se o povo está na merda e eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra - disse Lula

Mais tarde, na inauguração da ampliação da refinaria da Alumar, na presença de empresário e políticos, Lula citou o carnavalesco Joãozinho Trinta, ao comentar o aumento do poder aquisitivo do Nordestino:

- Antes, as pessoas não compravam porque não podiam. E diziam que pobre não gosta do que é bom, gosta de comprar ovo quebrado. Dê um dinheirinho na mão do trabalhador, que ele quer comprar tudo de primeira. Joãozinho Trinta já dizia, em 1978, que quem gosta de miséria é intelectual, o pobre gosta é de luxo.

Aproveitando a presença do presidente do Senado e seu aliado, José Sarney (PMDB), Lula lembrou os preconceitos que o ex-presidente enfrentou para fazer investimentos no Norte de Nordeste.

- As regiões mais ricas do país pensem que só se pode investir com eles. O Sarney sabe da dificuldade que teve para implantar a zona franca e outros projetos de interesse da região.