Título: Corrida contra o termômetro
Autor: Jansen, Roberta
Fonte: O Globo, 13/12/2009, Ciência, p. 38

IPCC ressalta importância da ciência para acordo que minimize elevação de temperaturas

Ocoordenador do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, Rajendra Pachauri, defendeu ontem a importância da ciência no processo de negociação do acordo global para a redução das emissões de gases do efeito estufa, lembrando da ameaça que representa uma elevação da temperatura de 2 graus Celsius para os países mais vulneráveis e afirmando que, agora, cabe aos negociadores ¿decidirem o que farão com os dados disponíveis¿.

Segundo os números do painel de cientistas da ONU, para que o aumento das temperaturas do planeta se limite a 2 graus Celsius (o que supostamente evitaria os efeitos mais catastróficos das alterações climáticas), os países ricos precisam reduzir suas emissões de 25% a 40% até 2020, e as nações em desenvolvimento devem diminuir seu aumento de lançamentos de 15% a 30% no mesmo período. Tais números aparecem no rascunho do Compromisso a Longo Prazo que está na mesa de negociações da Convenção para as Mudanças Climáticas da ONU, em Copenhague, mas um consenso ainda está longe de ser alcançado, com boa parte dos países apresentando objetivos bem mais modestos.

Mesmo que se consiga limitar a elevação da temperatura a 2 graus Celsius ¿ e tal aumento é considerado praticamente já inevitável pelos cientistas ¿ haveria danos consideráveis às regiões mais vulneráveis do planeta, caso das nações insulares do Pacífico, por exemplo, que pedem, na reunião, por um limite de 1,5 grau Celsius de aumento.

¿ O limite (de aumento) que será determinado como meta global depende da parte do mundo a ser atingida ¿ afirmou Pachauri. ¿ Vale lembrar que um aumento da temperatura de 2 graus Celsius a 2,4 graus Celsius pode levar a uma elevação do nível do mar de 0,4 a 2,4 metros, o que, para alguns lugares, representa uma ameaça à sobrevivência. Temos de encarar isso. A decisão é dos negociadores, mas a ciência está dando as bases. Se as ilhas estarão sob as águas é algo que a ciência pode prever.

Mais foco nos riscos energéticos

Segundo Chris Field, responsável pela área de impactos do 4º Relatório do IPCC, mesmo um leve aumento das temperatura pode levar a impactos severos em tais países.

¿ Mesmo que a elevação do nível dos mares seja de poucos centímetros, pode haver severos danos à costa, principalmente se somados a outros eventos, como tempestades, furacões ¿ afirmou Field. ¿ Os danos podem ocorrer muito rapidamente.

Os rascunhos de documento que circulam pelo Bella Center trazem por escrito, pela primeira vez, que as metas estipuladas ¿devem ser baseadas no melhor conhecimento científico disponível¿. E aponta ainda que revisões podem ser feitas a partir do lançamento do 5º relatório do IPCC, no qual os especialistas já estão trabalhando.

¿ Vamos investir mais em outros tipos de impacto, como acidificação dos mares ¿ adiantou Field. ¿ Vamos aprofundar mais também os aspectos sociais, econômicos e culturais de determinados impactos. Pretendemos ainda dar mais ênfase aos riscos energéticos de determinados impactos. Achamos que é um dado importante para o estabelecimento de políticas.