Título: Partido sonha com volta por cima em 2010
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 13/12/2009, O País, p. 8 e 9

Legenda tem planos ambiciosos, mas só lidera pesquisa no RN

Embora admitam o impacto das denúncias contra o governador José Roberto Arruda (DF), os caciques do DEM mantêm, em público, um discurso otimista sobre o futuro do partido.

O líder na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), diz que vai defender que a legenda trate abertamente do mensalão do Distrito Federal na campanha.

Ele afirma que a desfiliação do governador foi uma solução satisfatória, que pode atenuar os danos causados pelo episódio: ¿ As denúncias chocaram e denegriram a imagem do partido, mas o que importa é que nós não fomos coniventes. Vamos comparar essa atitude com a do PT, que só expulsou o tesoureiro e continua a alimentar os corruptos do seu mensalão.

O ex-prefeito Cesar Maia, que deve concorrer ao Senado, faz coro ao otimismo oficial: ¿ Estaremos outra vez disputando a hegemonia no Senado e ampliaremos nossa bancada na Câmara para mais perto de 70 deputados ¿ afirma.

As pesquisas indicam que a tarefa não será fácil. Nas eleições para governador, o DEM só lidera com folga no Rio Grande do Norte, onde a senadora Rosalba Ciarlini tem apoio do colega Garibaldi Alves Filho (PMDB). O partido acredita ter chances em outros cinco estados.

O DF, onde a sigla apostava na reeleição de Arruda, já é visto como um caso perdido.

Pesquisador condena aposta no discurso moralista Último bunker de poder do DEM em Brasília, a bancada do Senado também pode encolher em 2010, quando terá que renovar oito de suas 13 cadeiras.

Por enquanto, o partido só aposta com firmeza na reeleição de três senadores: Demóstenes Torres (GO), Efraim Moraes (PB) e Agripino Maia (RN).

Reservadamente, aliados preveem dificuldades até para o cacique Marco Maciel (PE).

Autor de tese sobre o PFL, o cientista político Juliano Corbellini diz que o partido pode ser punido pelo discurso moralista contra o governo Lula, radicalizado após o mensalão do PT. Ele diz que a sigla abandonou as bandeiras programáticas para se pautar numa agenda próxima da velha UDN ¿ por sinal, berço de muitos políticos da Arena.

¿ Na política brasileira, a agenda moral funciona como um bumerangue. Você joga no adversário e ela volta contra você.

Isso já aconteceu com o Collor e com o PT, e agora vai acontecer com o DEM ¿ avalia.

Para uma fonte próxima à cúpula do DEM, não será fácil consertar o estrago: ¿ O partido vinha fazendo um esforço enorme para mudar sua imagem. Em São Paulo, eleitores que nunca tinham votado no PFL apoiaram o GIlberto Kassab em 2008. Agora vai ficar mais difícil. (Bernardo Mello Franco)