Título: Valenzuela quer aparar arestas com Mercosul
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 14/12/2009, O Mundo, p. 21

Diplomata-chefe de Obama para as Américas discutirá rejeição do bloco às eleições em Honduras, apoiadas pelos EUA

BRASÍLIA. Com a situação política em Honduras como pano de fundo, o secretário de Estado adjunto para as Américas dos EUA, Arturo Valenzuela, inicia hoje, em sua primeira visita à América do Sul, um périplo de seis dias pelos países do Mercosul. O Brasil será o primeiro destino de Valenzuela, que chega a Brasília pouco menos de uma semana depois de o bloco sul-americano rejeitar as eleições presidenciais hondurenhas no fim do mês passado numa reunião de cúpula, em Montevidéu.

A expectativa do governo brasileiro é que o representante de Barack Obama tentará amenizar o clima e aparar as arestas com os países do bloco, surgidas desde que os Estados Unidos passaram a respaldar a vitória de Porfirio Lobo, ignorando o presidente deposto, Manuel Zelaya. Um sinal positivo do representante da Casa Branca, comentou um alto funcionário, seria os EUA pressionarem o governo de Honduras a dar um salvoconduto a Zelaya, para que ele possa se retirar do país sem o status de asilado político.

O presidente deposto está há cerca de três meses na embaixada brasileira em Tegucigalpa.

Governo brasileiro está irritado com os EUA Do Brasil, Valenzuela seguirá para Argentina, Uruguai e Paraguai. Embora o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tenha sido um dos signatários da declaração do Mercosul, Valenzuela não visitará Caracas, por razões óbvias. O governo americano já deixou claro que está profundamente incomodado com as declarações de Chávez a respeito da conduta de Washington na América Latina, especialmente no acordo que prevê o uso de bases militares na Colômbia por forças americanas.

Segundo a Embaixada dos EUA em Brasília, Valenzuela terá reuniões com o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, e o secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota ¿ que, até recentemente, era embaixador do Brasil em Washington. As conversas serão difíceis, tendo em vista o clima de irritação que paira entre os integrantes do governo brasileiro em relação aos EUA, que também têm criticado a aproximação brasileira com o Irã.

No rol de assuntos que serão tratados pelas autoridades brasileiras com o secretário de Estado adjunto americano destacam-se democracia, segurança do cidadão e formas de melhorar as condições econômicas e políticas da região.

O papel da Organização dos Estados Americanos (OEA) na defesa da democracia também estará na pauta.

A vinda de Valenzuela a Brasília também reflete a intensidade das relações entre os dois países, marcadas pela maior projeção do Brasil como líder regional.

¿ Bater de frente com os Estados Unidos em relação a Honduras foi um erro. O Brasil não tem tanta influência assim na América Central ¿ comentou Geraldo Lesdat Cavagnari, do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Unicamp.

Por outro lado, enfatizou Cavagnari, o Brasil bate de frente com os EUA sem ter uma atitude belicosa. E, em alguns casos, é um aliado importante, atuando como ¿interlocutor confiável¿, para apaziguar os ânimos de Chávez