Título: Sem dinheiro, sem acordo
Autor:
Fonte: O Globo, 14/12/2009, Ciência, p. 23

Dilma diz que Brasil não aceitará imposições. Países ricos também não cedem

Deborah Berlinck, Chico de Góis e Roberta Jansen Enviados especiais¿ COPENHAGUE

Dinheiro continua a ser a principal questão em Copenhague.

Sobram discussões, mas recursos não são nem miragem na Conferência do Clima (COP-15) que entrou ontem na fase decisiva com a chegada dos ministros. Sessenta dos 100 ministros que chegaram se reuniram para discutir o financiamento de um acordo, mas não houve avanço. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, chefe da delegação brasileira, disse que o Brasil já fez sua oferta e criticou com veemência os países ricos por tentarem impor aos emergentes obrigações, que, segundo ela, não lhes cabem.

Ela destacou que se isso for aceito, será um escândalo. A posição do Brasil é compartilhada pelo G-77, que reúne os países em desenvolvimento.

¿ Aceitar que países em desenvolvimento são iguais aos desenvolvidos é um escândalo. Seria um absurdo abrirmos mão das obrigações dos desenvolvidos ¿ afirmou.

Ela deixou claro que o país não está disposto a ceder.

¿ O Brasil tem uma posição firme.

Temos de garantir que os países em desenvolvimento tenham o direito que lhes cabe ¿ declarou.

Dilma discordou das insinuações de que o Brasil poderia ser responsabilizado pelo fracasso da conferência por cobrar compromissos dos ricos.

¿ Temos de ter cuidado para não deixar que os países desenvolvidos coloquem seus problemas nos ombros dos em desenvolvimento ¿ disse.

Ela afirmou que apesar de o Brasil ter sido um dos primeiros a propor metas, espera contar com financiamento externo para implementar mais rapidamente esses objetivos: ¿ Se houver financiamento externo, faremos numa velocidade. Se não houver, faremos em outra..

EUA dizem que não darão nada à China

E o domingo terminou sem indicação de quanto os ricos oferecerão para financiar a adaptação e a mitigação à mudança climática. E, sem isso, o G77 diz que não há acordo. O diretor do G-77 foi enfático: ¿ Os países em desenvolvimento estão unidos para cobrar dos ricos o cumprimento de suas obrigações ¿ disse Lumumba Stanislau Di-Aping.

O G-77 insiste na criação de mecanismo financeiro controlado pelos países signatários da Convenção de Mudanças Climáticas, e não pelos países doadores. E quer que os ricos contribuam com 0,5% a 1% de seu PIB ao ano. Outro ponto polêmico é quem receberá dinheiro. Países desenvolvidos defendem que as verbas sejam destinadas aos pobres e não aos chamados grandes emergentes, como China e Brasil. Os EUA deixaram isso claro: ¿ Eu não vejo fundos públicos, certamente não dos EUA, para a China ¿ disse Todd Stern, enviado especial de Barack Obama.

Os chineses reagiram mal: ¿ Eu não quero dizer que este senhor (Stern) é ignorante, mas acho que falta a ele bom senso ou é extremamente irresponsável ¿ afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores da China, He Yafei.

Os mecanismos para a criação de um mecanismo para a quantificação de redução de emissões por combate ao desmatamento, o REDD, já teriam sido aprovados pelos negociadores. E isso é de crucial importância para o Brasil e suas metas de redução de 80% do desmatamento da Amazônia. Sem as definições sobre financiamento, no entanto, ele não sai do papel.

¿ A China pede para os EUA fazerem mais e os EUA pedem para a China fazer mais ¿ resumiu De Boer. ¿ Espero que, nos próximos dias, todos possam fazer mais