Título: O peso das desigualdades regionais
Autor: Barbosa, Adauri Antunes; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 12/12/2009, O País, p. 4

No DF, 90% de cobertura; no Norte e Nordeste, menos de 10% BRASÍLIA. A 35 quilômetros do centro do poder político do país, as donas de casa do assentamento de Itapoã observam de seus portões enquanto as crianças menores brincam dentro das escavações e entre as manilhas de concreto deitadas na terra vermelha, já enlameada com o começo das chuvas. A rede de esgoto avança rapidamente no Distrito Federal, que chega cada vez mais perto da universalização ¿ hoje, 93% da população são atendidos, e metade do esgoto é tratado. Esse retrato da pobreza na capital federal é, porém, uma realidade distante da miséria da maioria das favelas do Norte e do Nordeste.

O mapa do saneamento revela disparidades, com São Paulo e o Distrito Federal à frente ¿ os únicos com mais de 70% de atendimento da rede de esgoto. Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná seguem com 40% a 70%. Na outra ponta estão Rondônia, Amapá, Pará e Piauí, todos com menos de 10% da população contemplada com esse serviço.

Outros nove estados não ultrapassam 20%.

Os dados são do Sistema Nacional de Informações em Saneamento (SNIS).

¿ O que demorou mais foi o esgoto. A rede de energia foi a primeira a chegar, logo depois a água, que antes a gente bebia da cisterna.

Agora, vamos ter o esgoto. Vamos ser avisados para fechar as valas ¿ disse Rosineide Oliveira, explicando que sua casa terá escoamento para uma ¿caixa de coleta¿.

¿ O esgoto já está pronto, mas só podemos ligar depois de passar o asfalto, ainda não tem data ¿ disse Jaqueline Barbosa da Silva, enquanto segurava o filho Caíque, de 4 anos, que brincava nas tábuas sobre a fossa.

As mães contam que os problemas de saúde diminuíram depois que chegou a água.

¿ Com cisterna, era normal as mulheres correrem para o posto com crianças enjoadas, com dor de barriga e diarreia. A orientação era a mesma: evitar água suja e as valas de esgoto ¿ disse Rosineide. (Leila Suwwan)