Título: Mantega diz estar com pé no acelerador
Autor: Almeida, Cássia ; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 08/12/2009, Economia, p. 19

Previsão do ministro é crescer pelo menos 5% no ano que vem. CNI vê expansão

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que colocou o "pé no acelerador da economia" e que previsões de crescimento de 5% do PIB para 2010 já seriam modestas. Ele disse ainda que não existe uma "bolha de consumo", mas admitiu que a demanda aquecida neste fim de ano pode provocar pontualmente o desabastecimento de produtos.

- Fomos muito bem-sucedidos ao estimular a retomada do consumo, que é o que falta nos outros países, onde há uma queda (do consumo) e a economia está parada - afirmou ele, durante seminário em Guarulhos, São Paulo. - Estimulando o consumo de vários produtos, a população se entusiasma e pode ser que haja falta pontualmente, mas a indústria está trabalhando.

Falando sobre as estimativas de variação do PIB, Mantega afirmou que o país deixou para trás "índices vergonhosos" do passado.

- Tenho posto o pé no acelerador da economia brasileira. Para 2010, está previsto um crescimento (do PIB) de pelo menos 5%. Isso é a previsão mais modesta, do ministro da Fazenda, porque outras previsões já falam em crescimento de 5,5%, 6% até 6,5%.

O crescimento neste fim de ano está surpreendendo a equipe econômica, que já projeta expansão entre 1% e 1,5% para o PIB no último trimestre em relação aos três meses anteriores. A expectativa dos técnicos era que, devido a um efeito sazonal, o crescimento da economia ficasse em 0,6% entre outubro e dezembro. No entanto, a atividade industrial se manteve forte.

- Como era esperado, as empresas anteciparam a produção no terceiro trimestre. Mas a desaceleração esperada nos meses de outubro e novembro foi menor. Foi uma boa surpresa - disse um técnico da equipe econômica.

Todos os indicadores tiveram crescimento na indústria

Segundo pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), todos os indicadores industriais de outubro apresentaram crescimento em relação ao mês anterior. O índice de faturamento das empresas, por exemplo, cresceu 1,8%. Já o de horas trabalhadas, subiu 1,4% na mesma comparação. O emprego industrial, por sua vez, cresceu 0,6%, o que também elevou a massa salarial em 1,7%.

- Isso mostra que a indústria entrou numa fase de crescimento sustentável. Em 2010, vamos mais do que recuperar a queda do ano passado - disse o gerente-executivo da Unidade de Pesquisa, Avaliação e Desenvolvimento da CNI, Renato da Fonseca.

Ainda segundo a CNI, a indústria de transformação operou, em média, com 80,5% da capacidade instalada em outubro, o que representa alta de 0,4 ponto percentual em relação a setembro. "O crescimento da capacidade instalada ocorre de forma gradual, com claros sinais de retomada dos investimentos", diz a CNI.

Segundo Fonseca, a CNI não trabalha com a possibilidade de grandes mudanças no cenário cambial, que continua desfavorável às exportações brasileiras. Ele afirmou, no entanto, que ações em outras áreas podem ser feitas, como desonerações tributárias e investimentos em infraestrutura.

- Há muita gordura para queimar e aumentar a competitividade das empresas, principalmente na infraestrutura e na área tributária - disse o gerente da CNI.