Título: PIB: prejuízo ficou para trás
Autor: Almeida, Cássia ; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 08/12/2009, Economia, p. 19

A TODO VAPOR

Economia deve voltar aos níveis de antes da crise, puxada por investimento e indústria

A economia brasileira, depois de amargar uma recessão no início do ano, recuperou as perdas impostas pela crise financeira mundial. Segundo analistas, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) voltou aos patamares de antes da crise, o pico histórico da expansão brasileira alcançado em setembro de 2008. Os grandes números da economia no terceiro trimestre serão divulgados depois de amanhã pelo IBGE. Segundo as projeções, a alta do PIB contra o segundo trimestre será entre 1,9% e 2,1%. E, frente ao terceiro trimestre de 2008, a queda ficará entre 0,1% e 0,3%. Caso essas projeções se confirmem, o país terá recuperado o que perdeu e, no fim deste ano, passará a crescer de novo.

- A velocidade de reação desse ciclo foi a mais rápida dos últimos 25 anos - afirma Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora.

Os dois setores que ainda sentem o golpe da crise serão os principais responsáveis pela alta prevista para o terceiro trimestre: a indústria e o investimento. Este último crescerá até 4% frente ao segundo trimestre, o dobro do esperado para a economia como um todo. A indústria, que ainda está produzindo 5,7% abaixo do auge de 2008, deve ter crescido até mais de 3% de julho a setembro.

- Esta alta está relacionada à queda forte que esses setores tiveram nesse período de crise global - afirmou Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora.

Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, lembra que o investimento não mostrava expansão desde o início da crise:

- A confiança do empresário voltou, a ociosidade da indústria diminuiu e o crédito para pessoa jurídica se normalizou.

Para 2010, projeções são de alta de 5% a 6,5%

Montero diz que o investimento levará mais de dois anos para se recuperar totalmente. Os impulsos para ampliar a capacidade produtiva do país estão sendo encampados pelo consumo. São eles: o gasto público, as importações e o déficit nas contas com o resto do mundo.

Para 2009, as projeções para o crescimento do PIB giram entre 0,2% e 0,5% de alta. Para 2010, os números são mais otimistas. O Credit Suisse espera expansão de 6,5%, com alta forte no quarto trimestre deste ano. Com isso, haverá o chamado carregamento estatístico. O patamar da produção do fim do ano será maior que a média de 2009. Portanto, já se começa 2010 a pleno vapor. Pelas contas do Credit Suisse, esse fator fará com que o país já cresça ao menos 2,3% em 2010 - mesmo na hipótese de a economia ficar parada, o carregamento estatístico garante essa alta.

- Nossa previsão de 5,5% para 2010, que era otimista há quatro meses, ficou conservadora. A política do governo, que até então era anticíclica, agora tem caráter pró-cíclico - afirma Alexandre Maia, economista-chefe da GAP Asset.

O otimismo também aparece na pesquisa Focus do Banco Central (BC), com 80 economistas. A expectativa é que o PIB crescerá 5% no próximo ano. No pior momento da crise, no início do ano, a estimativa chegou a ser de 3,5%. Segundo a economista-chefe do ING, Zeina Latif, a demanda interna continuará assegurando os bons resultados de 2010, avançando entre 7,5% e 8% e levando o PIB a uma alta de até 5,5%.

- Diante de uma economia mundial que deve crescer 2,9% em 2010, a demanda interna vai ser importante para o país.