Título: Sem alívio nos preços
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 09/12/2009, Economia, p. 23

Mesmo com prorrogação de IPI menor, materiais de construção sobem até 30%

Apesar da prorrogação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para materiais de construção, os preços dos produtos subiram até 30% nos últimos meses. Levantamento feito pelo GLOBO ontem e no dia 29 de junho, quando foi anunciada a extensão do benefício pela primeira vez, constatou que, de 19 itens pesquisados, sete registraram alta de preços, com avanços que chegam a quase 30%. É o caso da ducha higiênica Forusi, na Casa & Construção (C&C), que subiu de R$ 53,90 para R$ 70,00 nos últimos seis meses.

O benefício fiscal para materiais de construção, concedido pelo governo a partir de abril, foi renovado em junho e terminaria no fim deste ano. Mas, no último dia 25, as alíquotas reduzidas foram prorrogadas para até junho de 2010. Vários produtos, como tintas, cimento, lavatórios e boxes, ficaram isentos de IPI. Outros itens, como massa de vidraceiro e disjuntores, tiveram a alíquota reduzida.

Dos 19 produtos pesquisados pelo GLOBO em três grandes redes de material de construção do Rio, quatro não apresentam variação, e em outros oito houve recuo de preços. A maior redução verificada foi na argamassa de porcelanato da Quartzolit, também na C&C, que caiu de R$ 18,90 para R$ 15,90 ¿ uma queda de 15,8%.

Setor alega ainda ter estoque elevado

De acordo com Cláudio Conz, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), os varejistas tiveram de repassar para o consumidor o aumento nos custos de matériasprimas cotadas no mercado internacional, como cobre e derivados do petróleo, cujo aumento foi maior que a queda do dólar frente ao real. Ele afirma que as redes do setor ainda têm em estoque produtos adquiridos antes da vigência do benefício fiscal: ¿ Diferentemente dos carros e dos eletrodomésticos da linha branca, a redução do IPI no setor não contemplou o que já havia no estoque.

As empresas ainda estão cheias de produtos, já que até abril houve queda de 15% nas vendas.

Segundo o levantamento, pisos, revestimentos e porcelanatos tiveram alta em seus preços, assim como duchas e assentos sanitários. Na Amoedo, por exemplo, o porcelanato Traventino Bianco subiu de R$ 39,90 para R$ 49,90 ¿ um avanço de 25,06%. Já o piso beta Delta, na Casa Show, passou de R$ 9,90 para R$ 10,90 ¿ variação de 10%. Por outro lado, a argamassa apresentou valor igual na Amoedo e queda de 15,8% na C&C. O cimento registrou recuo entre 5,2% e 10% nas lojas pesquisadas.

Reformando seu imóvel, a pedagoga Rosane Lopes afirma que não verificou queda nos preços dos produtos.

Em obra há mais de três meses, ela decidiu recorrer à pesquisa de preços para tentar economizar o máximo possível.

¿ Às vezes tem uma promoção, mas é coisa isolada. Se teve redução nos preços, isso ainda não chegou para o consumidor ¿ diz Rosane.

Melvyn Fox, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), argumenta que os itens vendidos nas lojas embutem o reajuste de salários dos trabalhadores nas fábricas. Em alguns segmentos, continua Fox, houve alta de até 7% nos salários: ¿ A alta dos preços não está relacionada com aumento da demanda.

A capacidade ainda está ociosa. Este ano, o setor vai fechar em queda entre 8% e 10%. Para 2010, a alta pode chegar a 16%. A extensão do benefício até meados de 2010 é muito importante para o setor, pois uma obra leva até dois anos para ser concluída