Título: Após escândalo, ministros evitam cartão
Autor: Gois, Chico de ; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 11/01/2010, O País, p. 3

. O escândalo dos cartões corporativos, que abalou o governo Lula no início de 2008, levou a uma mudança de comportamento nos ministérios. No ano passado, dos 37 ministros, apenas dois usaram o cartão corporativo para pagamento de despesas em viagens - Carlos Minc (Meio Ambiente) e José Gomes Temporão (Saúde). E foram bastante econômicos nos gastos. Segundo dados disponíveis no Portal da Transparência, Temporão pagou despesas de R$3.740,82 com o cartão, e Minc, R$889,45.

Em julho do ano passado, o governo criou as diárias para ministros em viagens nacionais, uma das sugestões da CPI do Cartão Corporativo. Com isso, despesas com hospedagem, alimentação e deslocamento não podem mais ser pagas com cartão. O valor das diárias nacionais vai de R$458 a R$581.

Segundo o Ministério da Saúde, Temporão deixou de usar o cartão a partir de 22 de julho de 2009, quando foi publicado no Diário Oficial da União o decreto que instituiu as diárias. Em resposta ao GLOBO o ministério diz que, até essa data, o cartão "era o único instrumento instituído para custear despesas com hospedagem e refeições". Minc está de férias na Amazônia e não retornou as ligações da reportagem.

O escândalo do cartão corporativo derrubou a então ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Matilde Ribeiro. Ao longo de 2007, ela gastou R$171.556,09 no cartão corporativo, sendo cerca de R$110 mil com o aluguel de carros e mais de R$5.000 em restaurantes. Mas o que realmente pesou contra ela foi um gasto de R$461,16 em um free shop, pago com o cartão do governo. Matilde alegou ter usado o cartão corporativo por engano e devolveu o dinheiro aos cofres públicos. O caso do ministro do Esporte, Orlando Silva, virou folclore. Ele pagou o equivalente a R$20.491,94 com cartão corporativo, incluindo R$8,30 em uma tapiocaria de Brasília. Ele também devolveu o valor.

O escândalo provocou a criação de uma CPI no Congresso e respingou na ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, acusada pela oposição de mandar montar um dossiê contra os tucanos, com gastos de cartão corporativo no governo Fernando Henrique Cardoso. Para ter mais controle sob o uso do cartão, o governo determinou a redução dos saques, mas mantendo o pagamento das despesas.(Luiza Damé e Chico de Gois)