Título: Perdas com venda da BrT
Autor: Mendes, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 31/05/2009, Economia, p. 24

Sinttel alerta que fusão pode provocar 1,9 mil demissões no DF. Oi contesta, indicando uma nova equipe superior a 400 pessoas

O Distrito Federal pode perder 1,9 mil empregos e uma renda de R$ 170 milhões por ano com a incorporação da Brasil Telecom (BrT) pela Oi. A estimativa é do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do Distrito Federal (Sinttel-DF), que fez os cálculos com base na proporção de funcionários que a Oi, com sede no Rio de Janeiro, mantém em outros estados do país, e o impacto que o corte desses postos de trabalho na capital federal.

Segundo Brígido Ramos, presidente do Sinttel-DF, se forem levados em conta os empregos indiretos, o prejuízo dobra. ¿Isso considerando só salários, sem tíquete-alimentação, vale-transporte, plano de saúde e outros benefícios que deixarão de movimentar a economia no DF. O impacto é grande em toda a área da BrT. Dos 5,7 mil funcionários diretos nas unidades onde a empresa atua, só vão restar 1,7 mil. Em Brasília, só ficarão 300¿, calcula.

Julio Cesar Fonseca, diretor de gente da Oi ¿ responsável pela diretoria de recursos humanos e comunicação interna da empresa ¿, contesta as projeções do Sinttel-DF. O executivo disse que não poderia revelar números, mas garantiu que a quantidade de funcionários que continuará na empresa no DF será bem superior a 400. ¿Brasília, depois de São Paulo, é o mercado corporativo mais importante para a Oi, pois tem não só as esferas dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, mas a renda mais alta do país. É um mercado bem maior que Pernambuco, onde temos cerca de 400 funcionários diretos da operadora. Bahia tem mais de 400 e Brasília terá muito mais que isso¿, afirma (leia mais ao lado).

A previsão da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações (Fittel) é que as demissões atinjam 6 mil a 8 mil pessoas no país. ¿Mesmo que a empresa negue, a gente sabe que ela tende a atuar de forma enxuta e concentrar as atividades no Rio¿, diz João de Moura Neto, secretário-geral da Fittel. Ele projeta que haverá demissões também no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. ¿Entre 60% e 70% do efetivo não será utilizado. A Oi vai manter dois centros de rede? Não vai¿, observa.

Segundo Brígido Ramos, já foram dispensados 800 trabalhadores no DF ¿ 400 diretos e 400 indiretos. Os alvos foram os ocupantes de cargos de gerência e chefia, com salário médio de R$ 5 mil a R$ 6 mil, e aqueles com rendimentos inferiores a R$ 2 mil. Segundo ele, só na área de vendas foram 150 pessoas dispensadas. ¿O sindicato quer negociar a manutenção de empregos de qualidade. Queremos intervenção do governo e da Anatel¿, acrescenta.

Sem trabalho Zilma Maria faz parte do contingente de demitidos no DF. Ela trabalhava na BrT há 20 anos e conta que a única chance de ela ficar na empresa seria a mudança para o Rio. ¿Por questões familiares, não era a minha opção¿, explica. Depois de 23 anos de empresa, João Aluísio sentiu a mesma frustração. Também por questões familiares, comunicou que não poderia se mudar, mas manifestou a vontade de permanecer trabalhando para a operadora no DF. Foi em vão. Mesmo quem se dispôs a mudar para o Rio não teve a permanência garantida. ¿Achei que teria oportunidade, mas as demissões foram totalmente sem critério¿, desabafa Washington Dantas. Preocupado, o Sinttel-DF, recorreu ao Ministério Público do Trabalho. ¿Não há motivo para a transferência de pessoas de Brasília para o Rio. A Oi não está passando por dificuldade econômica. E, se estivesse, teria de mostrar o nível e em que ponto isso interfere no emprego das pessoas¿, ressalta Cláudio Santos, advogado do sindicato.