Título: Lindberg diz que apoiará Cabral
Autor: Moreno, Jorge Bastos ; Nobrega, Camila
Fonte: O Globo, 01/01/2010, O País, p. 3

Prefeito de Nova Iguaçu afirma que, a pedido de Lula, fez acordo e desistiu do governo do Rio

Após mais de duas semanas resistindo a pressões dentro do PT e do PMDB, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), recuou e fechou um acordo com o governador Sérgio Cabral (PMDB), desistindo de sua candidatura ao governo do Estado do Rio pelo PT em 2010. Segundo Lindberg, sua principal exigência para o acordo, que só será anunciado no fim de janeiro, foi a garantia de vaga para disputar o Senado, deixando Benedita da Silva fora da corrida. Já o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ), que tem articulado com Cabral as conversas com o prefeito de Nova Iguaçu, confirma a combinação, mas nega que a vaga para a disputa do Senado no PT tenha sido negociada.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou Lindberg e lhe deu um ultimato: disse que não estaria em outro palanque no Rio, a não ser o do atual governador. Enfraquecido também com a derrota de seu candidato, Lourival Casula, para presidir o PT do Rio, Lindberg perdeu a possibilidade de insistir com Lula. Recorreu a Cabral para costurar um pacto e assegurar a vaga ao Senado.

- Fiz o acordo, porque o presidente Lula conversou comigo e pediu que eu desistisse nesse momento e também porque havíamos perdido as eleições internas no PT. Darei dois passos atrás para dar um passo adiante - disse o prefeito de Nova Iguaçu, citando Lênin e já pensando em sua candidatura a governador em 2014.

O cenário também é o ideal para a executiva nacional petista, que luta para manter a aliança com o PMDB nos estados a fim de eleger a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para o Planalto. Mesmo assim, Lindberg continuava insistindo na candidatura própria, principalmente porque as correntes no PT permanecem divididas e há chances de que grupos petistas não façam campanha para Cabral.

"Ele vai disputar no PT", diz Pezão

Além da vaga para o Senado, Lindberg afirma que estaria garantida a vinda, para favelas do Rio atendidas pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), de projetos sociais implantados por ele em Nova Iguaçu.

- Combinei com Cabral que lideraria projetos nas comunidades - afirmou Lindberg, prometendo que estará no palanque de Cabral em 2010.

Embora confirme o pacto, Pezão não ratifica os detalhes apresentados por Lindberg:

- Houve um acordo, e no dia 6 de janeiro vamos acertá-lo. Mas não houve garantia de que ele seria o candidato do PT ao Senado. Isso ele vai disputar no PT, com a Benedita, internamente. Não temos como interferir nisso, uma decisão do partido. O compromisso foi apoiá-lo, caso ele saia candidato ao Senado dentro do PT. Ele pediu ajuda para obras em Nova Iguaçu, para que ele consiga entregá-las dentro do mandato - disse Pezão, ressaltando que o acordo será anunciado no fim de janeiro.

Irritado com a articulação de Lindberg, o presidente eleito do diretório do PT no Rio, Luiz Sérgio, critica o acordo com o PMDB e afirma que, até o momento, a direção do partido não foi informada de nada:

- Se ele fez uma combinação, fez com a pessoa errada, porque primeiro devia ter discutido dentro do partido. Como presidente, desconheço qualquer acordo com esse teor. Embora tenha feito um recuo, ele está errando novamente ao conversar diretamente com o PMDB - disse Luiz Sérgio, acrescentando que não há possibilidade de a vaga ao Senado estar destinada a Lindberg. - É inevitável que haja uma disputa no PT, e um dos nomes é o da Benedita. O Lindberg tem todo o direito de reivindicar sua candidatura ao Senado, mas terá que disputar.

Benedita da Silva, que é secretária de Assistência Social de Cabral, disse que o governador prometeu não interferir na disputa no PT:

- Não sei de acordo algum, e o Sérgio Cabral me assegurou que não faria interferência. Espero que o partido faça a disputa normalmente. Tenho conversado com os líderes do PT, que sabem que vou concorrer para valer.