Título: Juro ao consumidor cai a menor nível desde 94
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 30/12/2009, Economia, p. 23

Taxa fecha novembro em 43% ao ano. Cheque especial vai a 163,3% com antecipação das compras de Natal

BRASÍLIA. As taxas de juros das operações de crédito para a pessoa física fecharam o mês de novembro em 43% ao ano, o menor percentual registrado pela série histórica iniciada em julho de 1994, segundo informou ontem o Banco Central (BC). A variação representa uma queda de quase 15 pontos percentuais ao longo deste ano. Na contramão dos custos da maior parte das linhas de crédito, os juros do cheque especial, que continuam sendo os mais altos do país, voltaram a subir, chegando a 163,3% ao ano no mês passado, contra 160% ao ano em outubro. Mesmo assim, ainda estão abaixo do recorde do pós-crise, registrado em novembro de 2008 (174,9%).

O aumento da taxa do cheque especial está relacionado, em boa medida, à antecipação das compras de fim de ano, que acabou levando os consumidores a se endividarem e os bancos a elevarem as taxas, em razão dos riscos de inadimplência.

Mas a expectativa do BC é que, como em todos os outros anos, isso se corrija com o 13osalário, que costuma ser usado na quitação de dívidas.

¿ O cheque especial passa por muita volatilidade. É uma taxa quase proibitiva. Nos primeiros 11 dias úteis de dezembro já caiu a 157,9% ao ano. A volatilidade existe e depende da instituição que se usa ¿ disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Inadimplência tem ligeiro recuo em novembro

Apesar de o mercado já trabalhar com um aumento da taxa básica de juro (Selic), Lopes acredita que, nos primeiros meses de 2010, a tendência é que os juros ao consumidor final continuem caindo. Isto porque a inadimplência também tem diminuído, o que reduz os riscos das instituições financeiras e derruba as taxas.

A inadimplência da pessoa física ficou em 8,1% em novembro, o que representa uma ligeira queda em comparação com os 8,2% em outubro. Este é o menor percentual desde dezembro de 2008, quando a crise começou a afetar o bolso consumidor. O indicador considera as dívidas com atrasos superiores a 90 dias.

`Spread¿ bancário mantém tendência de queda

O cheque especial registrou taxa de inadimplência de 12,1% em novembro. Este é o segundo percentual mais elevado da série histórica e pode ser explicado pelo fato de esta espécie de linha de crédito pré-aprovada e de fácil acesso ao consumidor ser a mais cara do país.

O spread bancário ¿ diferença entre as taxas de juros cobradas pelos bancos e a taxa efetivamente repassada aos clientes ¿ caiu para 25,1 pontos percentuais em novembro, contra 26 pontos percentuais de outubro, mantendo ritmo de queda desde dezembro do ano passado, quando estava em 30,7 pontos. O decréscimo maior ocorreu para pessoa física, que passou de 33,5 pontos percentuais em outubro para 32,2 pontos percentuais em novembro.

As taxas cobradas das pessoas jurídicas também caíram, encerrando o mês com 26% ao ano, o que representa uma redução de 0,5 ponto percentual em relação a outubro. No ano, a queda é de 4,7 pontos. Este é o menor índice desde fevereiro de 2008, quando os juros cobrados de estavam em 24,8% ao ano.

A inadimplência para pessoa jurídica foi de 3,9%, uma pequena queda em relação aos 4% em outubro. O indicador ainda se mantém bastante alto e é mais do que o dobro do patamar registrado antes da crise, de 1,6% em setembro do ano passado.

¿ Este foi o setor que mais sentiu com a crise, dado o efeito particular para a indústria e da falta de crédito dentro e fora do país em função da crise ¿ afirmou Lopes.