Título: Trabalho infantil cai à metade no Brasil em 15 anos, diz estudo da OIT
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 17/12/2009, Economia, p. 30

Percentual ainda é considerado preocupante. Ritmo de queda diminuiu

BRASÍLIA. Em 15 anos, o número de crianças no mercado de trabalho brasileiro caiu quase à metade, passando de 8,42 milhões para 4,85 milhões. O indicador para a atividade infantil entre o grupo de crianças de 10 a 14 anos no país recuou de 20,5%, em 1992, para 8,5% em 2007, segundo o estudo ¿Perfil do Trabalho Decente no Brasil¿, da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Mesmo assim, o percentual ainda é considerado preocupante pelo órgão, que alerta para a redução do ritmo de queda nos últimos sete anos.

¿ Os números ainda são preocupantes, mas mostram uma tendência de melhora ao longo do tempo ¿ afirmou o coordenador do estudo da OIT, José Ribeiro.

Políticas sociais como a valorização do salário mínimo e o Bolsa Família estariam por trás da melhora dos indicadores infantis.

¿ O Brasil tem política social.

É tardia e incompleta, mas existe, ainda que cheia de buracos ¿ disse o diretor de Estados de Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jorge Abrahão.

Os meninos são maioria (66%) no universo do trabalho infantil, enquanto as meninas representam 34% da mão de obra. Entre as crianças entre 5 e 14 anos, a queda foi de 12,1% para 4,9%. A OIT garante que a incidência de trabalho infantil, em geral, resulta em menor renda na idade adulta. Pessoas que começam a trabalhar antes dos 14 anos têm uma probabilidade muito baixa de obter rendimentos superiores a mil reais ao longo da vida.

Mulheres: dupla jornada e só 29% dos cargos de comando A maioria daquelas que entraram no mercado antes dos 9 anos tem poucas chances de ganhar mais de R$ 500 por mês.

Em média, quem começou a trabalhar entre 15 e 17 anos não chega aos 30 anos com uma renda muito diferente de quem ingressou com 18 ou 19 anos. O relatório destaca o aumento da taxa de desemprego entre os jovens de 15 a 24 anos, que passou de 11,9% em 1992 para 17% em 2007. Há dois anos, havia 7,8 milhões de trabalhadores sem emprego no Brasil, dos quais 46,7% (3,6 milhões) tinham de 15 a 24 anos de idade.

No período analisado, a percentagem de jovens que nem estudam nem trabalham caiu de 21,1% para 18,8%. Apesar da queda, segundo Ribeiro, este é um número que causa preocupação.

A jornada de trabalho do brasileiro caiu nos últimos anos, mas um percentual importante da população ainda permanece mais tempo no serviço do que o previsto em lei. Mais de 35% dos trabalhadores ocupados trabalharam uma jornada superior a 44 horas semanais e outros 20,3% tiveram jornadas superiores a 48 horas.

Embora venham aumentando a sua participação no mercado de trabalho nos últimos anos, as mulheres não conseguiram evitar as horas trabalhadas em casa. Além disso, ganham menos do que os homens e ocupam apenas 29% dos cargos de comando, segundo o estudo da OIT.