Título: Só 5% das cidades respondem por 75% do PIB
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 17/12/2009, Economia, p. 31

Concentração aumentou em 2007, diz IBGE. Participação do governo é fundamental na economia de um terço dos municípios

O IBGE mostrou ontem que a economia brasileira ficou mais concentrada em 2007 do que no ano anterior. De acordo com os dados do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos) municipal, 75% da riqueza nacional foram produzidos em 297 cidades ¿ ou 5% do total dos municípios do país. Um ano antes, em 2006, o mesmo percentual de riqueza foi obtido pela soma do PIB de 301 municípios.

Outro indicador também demonstra a maior concentração: a renda dos 556 municípios mais ricos (10% do total) era 24 vezes superior à produção dos 2.782 municípios mais pobres do país (50%). Em 2003, essa relação era de 22,4 vezes.

O instituto demonstra ainda que apenas cinco cidades ¿ São Paulo, Rio, Brasília, Belo Horizonte e Curitiba ¿ respondem por 25% do PIB nacional. E metade da riqueza nacional foi obtida em apenas 50 dos 5.564 municípios brasileiros. Esses dois índices são os mesmos que os registrados em 2006.

Para a responsável pela pesquisa no IBGE, Sheila Zani, a concentração da economia é uma realidade desde quando o número começou a ser pesquisado ¿ em 1999 para quase todo o país e em 2003 para o estado de São Paulo. Ela acredita que o aumento do PIB de algumas das cidades mais ricas do país é decorrente, em parte, do crescimento do setor de serviços, que foi forte em 2007: ¿ O setor de serviços foi o que mais cresceu em 2007 e ele ocorre de maneira relevante nas grandes cidades ¿ afirma Sheila, destacando que 40% dos serviços do país estão concentrados nas capitais.

Por outro lado, os 1.342 municípios mais pobres do país somavam apenas 1% do PIB nacional.

O Piauí tem 171 dos seus 223 municípios neste grupo (76,68%) e a Paraíba, 137 cidades (61,43% dos 223 municípios do estado). Tocantins aparece com 72 cidades (51,8%) e Rio Grande do Norte com 82 (49,4%). Mas o líder na contribuição em números absolutos é Minas Gerais, com 286 cidades no grupo, o equivalente a 33,53% dos 853 municípios do estado. O Rio não tem nenhum de seus 92 municípios nesse grupo, assim como Espírito Santo, Rondônia, Roraima e Mato Grosso do Sul.

A concentração é maior na indústria, serviços e, por último, na agricultura. No Rio, a concentração é forte: os cinco maiores municípios ¿ a capital, Duque de Caxias, Campos, Niterói e São Gonçalo ¿ têm 57% do PIB estadual. O estado, que tem 92 cidades, só perde em concentração para alguns do Norte. O Amapá (com 16 municípios), por exemplo, tem concentração de 86,3%, e Roraima (15 cidades), de 80,7%. Mesmo estados como Sergipe, Rondônia, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul, com menos municípios que o Rio (todos abaixo de 80 cidades cada), são menos concentrados.

Peso da administração pública chega a 80% Um terço dos municípios do país (1.881) tem, no mínimo, um terço de suas economias decorrentes da administração pública.

Há cidades onde o peso do governo é de até 80%. Em Roraima, todas as 15 cidades do estado têm mais de um terço da economia atrelada à administração pública. No Amapá, esse índice é de 93,8%. Em seguida, vêm Paraíba (90,9%), Piauí (90,6%), Amazonas (88,7%) e Rio Grande do Norte (82%). Na outra ponta, em nenhum dos 399 municípios do Paraná o governo tem peso significativo. Em Santa Catarina, o percentual é pequeno, de 0,3%.

Rio Grande do Sul (com 1,0%) e São Paulo (1,9%) também não se mostram dependentes da administração pública.

¿ Não podemos dizer se isso é bom ou ruim, apenas indica que a cidade não é diversificada economicamente ¿ diz a pesquisadora do IBGE.

No Estado do Rio, 51% dos municípios estão nesta categoria, o maior percentual do sudeste.

Mesmo em Minas Gerais, estado com mais municípios do país, o índice que mostra o peso do governo na economia é menor: 27,5%. Entre as capitais,12 têm participação da administração pública acima da média nacional: Brasília, Boa Vista, Macapá, Rio Branco, Porto Velho, Palmas, Natal, Campo Grande, João Pessoa, Aracaju, Teresina e Maceió. A cidade do Rio está quase na média da participação nacional, 13,2%, contra 13,3%. Vitória é a capital a menos dependente do governo, que representa apenas 4,5% da economia da cidade.