Título: Paraguai pode barrar Venezuela no Mercosul
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 17/12/2009, Economia, p. 35
Após aprovação do Brasil, presidente do Congresso paraguaio diz que Mercosul é frágil e vê risco em Chávez ter poder de veto Janaína Figueiredo Correspondente
BUENOS AIRES e BRASÍLIA. O Congresso do Paraguai não está disposto a aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul como membro pleno enquanto Hugo Chávez estiver na presidência.
A posição foi confirmada ontem ao GLOBO pelo presidente do parlamento paraguaio, senador Miguel Carrizosa, do partido opositor Pátria Querida. O senador assegurou que ¿o problema não é a Venezuela e sim Hugo Chávez. Com um Mercosul frágil, como temos hoje, é muito perigoso ter um presidente com poder de veto como Chávez, sobretudo para os sócios menores do bloco¿.
Após a aprovação do Congresso brasileiro, anteontem, o Paraguai é o único país do Mercosul que ainda não deu sinal verde à incorporação da Venezuela ao bloco como membro pleno. Segundo Carrizosa, ¿não é conveniente aceitar um país cujo presidente defende a reeleição indefinida, a clausura de meios de comunicação, a ingerência em assuntos internos de outros países e a aliança com nações como o Irã¿.
¿ Chávez reduziu a democracia a sua dimensão pessoal.
Ele representa um grande risco para o Mercosul ¿ enfatizou o senador paraguaio.
Hoje, o Senado do Paraguai realizará a última sessão do ano e a entrada da Venezuela sequer está entre os assuntos a serem tratados. O governo do presidente Fernando Lugo retirou o pedido do Parlamento para evitar uma derrota no Senado, cenário que hoje parece ser irreversível.
Dos 45 senadores paraguaios, apenas 17 se manifestaram a favor da incorporação plena do país ao Mercosul.
Até empresários venezuelanos estão céticos Ontem, até mesmo o vicepresidente paraguaio, Federico Franco, do partido Liberal, admitiu que, com Chávez no poder, é quase impossível que o Congresso autorize o pedido.
Apesar de o governo Lugo defender a medida, Franco se opôs abertamente à posição.
Em Caracas, a aprovação no Senado brasileiro foi muito bem recebida pelo governo, mas despertou poucas expectativas entre economistas e empresários locais.
¿ A única coisa que esperamos é que, a partir de agora o Mercosul, controle um pouco mais o cumprimento das regras democráticas em nosso país ¿ disse Victor Maldonado, presidente da Câmara de Comércio da Venezuela.
Para ele, ¿não convém ao Mercosul incorporar plenamente a Venezuela, porque Chávez vai tentar transformar um projeto econômico em político¿: ¿ O presidente vai tentar controlar política e ideologicamente o bloco, será uma moléstia permanente.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, divulgou nota ontem congratulando-se com o Senado, pela aprovação do protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul. Segundo Amorim, com o ingresso do novo membro, o bloco passará a ter 270 milhões de habitantes e Produto Interno Bruto (PIB) superior a US$ 2 trilhões.