Título: Vamos condenar a próxima geração
Autor: Gois, Chico de ; Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 17/12/2009, Ciencia, p. 37

Diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep), Achim Steiner disse acreditar que há vontade política para que se chegue a um acordo. Mas reconheceu que poderá ser pouco frente aos desafios das mudanças climáticas: ¿vamos condenar a próxima geração a pagar por nossa inabilidade¿.

O GLOBO: A 48 horas do encerramento da reunião, os principias pontos permanecem em aberto. Ainda há esperança de obter um acordo significativo?

ACHIM STEINER: Isso é parte do desafio. Ainda temos tempo para chegar a um acordo que seja significativo, eficaz e, pelo menos, vinculante do ponto de vista político. Cento e vinte chefes de estado estão chegando, há vontade politica para se fazer algo.

As metas anunciadas até agora não são suficientes para manter a elevação das temperaturas abaixo dos 2 graus Celsius. Como fica o futuro do planeta?

STEINER: Acho que uma política climática global não será possivel.

Vamos condenar a próxima geração a pagar por nossa inabilidade em superar diferenças.

Mas, como eu disse antes, há 120 chefes de estado chegando, várias peças estão na mesa.

Os EUA dizem que estão travados por sua legislação em trâmite no Congresso e não podem aceitar cortes superiores aos 17% já anunciados. Como resolver isso?

STEINER: Não é só o (presidente dos EUA, Barack) Obama que tem o Congresso. O Brasil tem o seu parlamento, a Índia também. Todos têm questões internas. Mas o momento psicológico é agora.

Os países desenvolvidos dizem que os países em desenvolvimento, como Brasil e Índia, devem fazer mais e vice-versa.

Como resolver o impasse?

STEINER: Todos precisam dar um passo a frente. A questão, no final, é saber se teremos um acordo justo, com equidade.

Alguns países desenvolvidos exigem que grandes emergentes, como Brasil, China e Índia, também contribuam financeiramente com o fundo climático global a ser criado. O senhor concorda?

STEINER: A questão do financiamento não está se desenrolando como esperávamos. Precisamos de verbas significativas dos países desenvolvidos. Neste caso, talvez algumas novas co-parcerias se tornem possíveis. (R.J.)