Título: Brasil anuncia US$ 166 bi em obras velhas
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 17/12/2009, Ciencia, p. 38

Governo divulga planos de mitigação, mas inclui projetos do PAC. Do total, US$ 113 bilhões são para hidrelétricas

COPENHAGUE. A ministra da Casa Civil e chefe da delegação brasileira na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, Dilma Rousseff, disse ontem que o governo vai gastar cerca de US$ 166 bilhões, até 2020, para ações de mitigação. O número é alto, mas muitas das iniciativas nesse sentido já estão em desenvolvimento, inclusive com previsão de obras no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como é o caso das usinas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, esta última uma das maiores do mundo.

De acordo com Dilma, boa parte desses recursos estão garantidos no Orçamento ou por empréstimos internos, principalmente via BNDES.

Mas, mesmo assim, ela afirmou que o Brasil precisará de financiamento externo para atingir seus objetivos.

Dilma esclareceu que, destes US$ 166 bilhões, US$ 113 bilhões seriam gastos com geração de energia limpa, sobretudo com hidrelétricas. Outros US$ 32 bilhões seriam destinados à agricultura e US$ 21 bilhões seriam ações para evitar o desmatamento na região amazônica, sem considerar, ainda, os recursos que vão para evitar o desmatamento do Cerrado.

A ministra disse que ontem havia uma proposta informal em discussão sobre financiamento dos países em desenvolvimento que não agradava ao Brasil. Segundo Dilma, a última versão do texto dispunha que 55% da verba viriam pelo mercado, 25% dos países ricos e o restante ainda não estava definido, mas, provavelmente, sobraria para os emergentes.

¿ Esta proposta não é bem vista por nenhum país que integra o G-77 (grupo dos países em desenvolvimento) ¿ definiu.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, foi mais direto: ¿ Do bolo todo, que era responsabilidade dos países ricos, eles querem ficar agora só com um quarto. Querem tirar três quartos de seus poderosos e poluidores ombros.

Dilma defendeu que a ONU seja responsável pelo gerenciamento dos recursos que integrarão o fundo a ser criado.

Dilma: negociar Kioto seria rendição A ministra deixou claro que o Brasil não negocia os compromissos do Protocolo de Kioto e da Convenção do Clima, que dizem que compete aos ricos financiar os pobres para as ações de mitigação e que os desenvolvidos devem cortar as emissões de gases de efeito estufa.

¿ Não negociamos porque aí não seria negociação, seria rendição.

Minc contestou, sem citar nomes, as propostas da senadora Marina Silva (PV-AC) e do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), de o Brasil colaborar com US$ 1 bilhão, em dez anos, para o fundo verde. Segundo Minc, o Brasil já ajuda países pobres.

Ele disse que 20% do Fundo Amazônia é dedicado às nações fronteiriças que têm parte da floresta.

Além disso, o país também colabora com os africanos, inclusive com transferência de tecnologia.

Minc afirmou que, em dez anos, o Brasil vai destinar US$ 5 bilhões a esses países.